Na última semana, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos, confirmou que o oceano Pacífico se encontra em temperaturas compatíveis com o La Niña. Em setembro, o órgão já havia sinalizado a probabilidade de registro do fenômeno em 71% entre este mês e dezembro. Com isso, na agricultura da Zona Sul, as culturas anuais deverão ser as mais afetadas com as mudanças climáticas.
De acordo com o comunicado da agência, as condições de La Niña se estabeleceram no mês de setembro pela expansão de temperaturas da superfície do mar abaixo da média em toda a região central e oriental do Oceano Pacífico.
O fenômeno deve persistir de dezembro de 2025 a fevereiro de 2026, com uma transição para neutralidade durante o verão ainda. A probabilidade disso se confirmar é de 55%, segundo a NOAA.
O que é o La Niña?
Durante este evento climático, as águas do oceano Pacífico ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo.
A última vez em que a fase fria esteve presente foi entre 2020 e 2023, com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil. Ao contrário do último momento de La Niña, que foi atipicamente longo, em 2025 e 2026 o período deve ser muito curto e fraco, perdurando de três a cinco meses, conforme os dados dos modelos de clima analisados pela MetSul Meteorologia.
No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio. No entanto, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão.
A climatologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMet) da UFPel, Eliana Klering, explica que o fenômeno caracteriza-se pela redução de chuva no Rio Grande do Sul como um todo. “Espera-se dias mais ensolarados com redução de umidade relativa. Outra característica esperada para nossa região é de que as noites sejam mais frias”, avalia.
Clima durante o La Niña
De acordo com o prognóstico climático divulgado pela Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), são esperadas chuvas variando de normal a ligeiramente abaixo da média na maioria das regiões do Rio Grande do Sul no último trimestre do ano. O mês com menos chuva deverá ser dezembro, especialmente na metade Sul e no Oeste gaúcho.
Nos meses de outubro e novembro, as precipitações devem ficar mais próximas da média, porém, com maior irregularidade dentro de uma mesma região, havendo leve tendência de ficar abaixo da média, principalmente em novembro.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) afirma que quanto mais distante o alcance das previsões, maiores são as incertezas. Desta forma, reforça a importância de acompanhar as atualizações mensais sobre o La Niña e demais fenômenos.
Efeitos na agricultura
Estiagens no período de primavera-verão não são raras no sul do Brasil. Algumas vezes estão relacionadas com o fenômeno La Niña, em outras não. Pela grande possibilidade de perda de toneladas de grãos, em especial, o fenômeno e sua associação com secas preocupam quem trabalha com agricultura no Sul.
Por conta dos baixos níveis de chuva, as culturas que precisam de irrigação natural acabam sendo as mais afetadas, principalmente naquelas propriedades que não conseguem agregar a irrigação artificial ao plantio.
Em análise dos possíveis impactos na Zona Sul, o engenheiro-agrônomo e extensionista da Emater Pelotas, Luciano Ossanes, afirma que, mesmo com a declaração de influência do La Niña, ainda não há registro de prejuízos às produções. No entanto, reitera que, com as expectativas de chuvas abaixo da média em dezembro, as culturas como soja, milho e arroz podem sofrer forte impacto. “No caso do arroz, por exemplo, desde que não falte água nos açudes também não seria um problema, até é interessante”, destaca Luciano.
Sobre o momento da agricultura na região, o extensionista da Emater Pelotas afirma que o tabaco está sendo plantado e, com as boas chuvas das últimas semanas, as lavouras têm boas perspectivas, assim como o milho.