A duplicação da BR-116, entre Guaíba e Pelotas, vai se arrastar por 15 anos. A obra, que começou ainda no governo Dilma Rousseff (PT), em 2012, só deverá ser concluída em 2027, conforme a última previsão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Com isso, o projeto de R$ 1,5 bilhão, que já viu quatro presidentes no poder, será finalmente entregue no quinto mandato presidencial desde o seu início. Embora 85% dos 211 quilômetros do projeto já estejam em uso (cerca de 180 quilômetros duplicados) a conclusão dos 31 quilômetros restantes esbarra em problemas logísticos e falta de mão de obra.
No trecho entre Turuçu e Pelotas, restam apenas 7,1 quilômetros para duplicar. O Dnit garante que as obras nessa parte da rodovia serão concluídas até dezembro de 2026. Já a nova ponte sobre o rio Camaquã está quase pronta, com a conclusão prevista para os próximos dois meses. Ainda assim, será necessária a contratação de uma empresa para executar os acessos e liberar o trânsito na nova travessia.
Camaquã
Em Camaquã, faltam 6,2 quilômetros. A boa notícia é que a travessia urbana do município já está em obras e deve ser finalizada até o fim de 2026. Em Cristal, os 8,8 quilômetros de pista simples também estão em andamento, com entrega prevista para dezembro do mesmo ano.
Tapes
Outro ponto de atenção é o acesso a Tapes. Lá, restam apenas 1,5 quilômetro e a construção de um viaduto. O Dnit pretende contratar a empresa responsável por esse serviço no primeiro semestre de 2026, com previsão de conclusão em 12 meses.
Guaíba
O trecho mais crítico, no entanto, é o de oito quilômetros em Guaíba, onde o serviço foi interrompido no ano passado. O Exército, que executava a obra, se retirou para concentrar esforços no atendimento a municípios afetados pela enchente, obrigando o Dnit a buscar uma nova empresa para retomar os trabalhos.
Essa é também a parte com maior fluxo de veículos e inclui um viaduto no projeto. A estimativa é que, após a nova contratação, as obras ainda levem cerca de um ano e meio, com conclusão prevista, na melhor das hipóteses, para junho de 2027.
Novo atraso preocupa lideranças
O novo atraso gera preocupações não só com o tempo, mas também com a segurança e a economia da região. Para Jorge Almeida, presidente da Aliança Pelotas, a extensão do prazo é ruim, especialmente diante do fim da concessão da Ecovias Sul no Polo Rodoviário Pelotas, que acontece em março de 2026.
“Com esse atraso, nós vamos ter obras na rodovia e não vamos ter conservação da estrada como deveria. Já notamos buracos no trecho de Porto Alegre até Camaquã”, alerta. O trecho não é concedido pela Ecovias Sul, e está sob responsabilidade do Dnit.
Além da falta de manutenção, a demora impede o auxílio mecânico nas estradas e aumenta o risco de acidentes. Almeida também destaca o impacto no custo logístico: “Uma estrada mal conservada, o frete aumenta. Além do risco, ainda tem os danos nos veículos de carga. Isso é preocupante”, ressalta.
Vice-presidente de infraestrutura da Federasul, Antônio Carlos Bacchieri, também critica a lentidão nas obras. Para ele, apesar de o governo federal arrecadar e gastar muito, os recursos não têm chegado com prioridade à infraestrutura. “Eu espero que eles coloquem esse final da BR-116 como uma prioridade, até porque a obra inacabada é a obra prioritária, não é mesmo?”, questiona.
Outras prioridades
O representante da Federasul também chama a atenção para a necessidade de concluir outras obras essenciais para a economia regional, citando a BR-392, a principal via de acesso ao Porto de Rio Grande. “A BR-392 afeta toda a economia da região Sul, porque a entrada do Porto de Rio Grande está um caos”, critica, lembrando que o trecho de oito quilômetros do Lote 4 ficou para trás.
Outra urgência apontada é a restauração da segunda ponte que liga Pelotas a Rio Grande sobre o Canal São Gonçalo: “Quem tem uma ponte só, daqui a pouco não tem nenhuma”. Bacchieri finaliza com um apelo: “Chega de brincar com o povo da região Sul, já é momento de terminar obras de mais de dez anos”.