As perguntas a serem feitas em Brasília

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

As perguntas a serem feitas em Brasília

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Dezesseis prefeitos da Zona Sul iniciam hoje uma série de agendas em Brasília. A liderança do grupo está com o prefeito de Pinheiro Machado e presidente da Azonasul, Ronaldo Madruga (PP), que chega à Capital Federal com uma missão de testar se a região é capaz de falar com uma só voz.

As reuniões em ministérios, órgãos do Governo Federal e no Congresso Nacional serão coordenadas pelo deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT), com apoio dos deputados Afonso Hamm (PP) e Daniel Trzeciak (PSDB). Um recorte raro de amplitude política, que reúne as principais correntes partidárias do Estado sob o mesmo roteiro institucional.

Mas antes de qualquer agenda oficial, o grupo terá, às 9h, em solo candango, uma reunião de alinhamento interno. Esse encontro é o ponto de partida da missão e, talvez, o mais difícil de todos. É nele que as diferenças partidárias precisarão dar lugar a uma pauta regional capaz de traduzir as demandas da Zona Sul em linguagem única. O prefeito de Pelotas, Fernando Marroni (PT), não integra a comitiva por “outras agendas organizadas anteriormente”, segundo sua assessoria. A ausência da principal cidade da região muda o equilíbrio político e amplia a responsabilidade de Madruga, que precisará costurar o discurso comum entre gestores de siglas tão distintas. Também participam da viagem três vereadores pelotenses: Marcos Ferreira (União Brasil), futuro secretário municipal de Habitação e aliado de Marroni; Éder Blank (PSD) e Cristiano Silva (União Brasil).

As pautas são conhecidas – infraestrutura, saúde e desenvolvimento produtivo. O que determinará se a Zona Sul voltará com conquistas ou apenas registros será a qualidade das perguntas que fará.
A primeira: o que acontecerá em 4 de março de 2026, quando termina o contrato da Ecovias Sul? O DNIT garante plano emergencial? Há verba, cronograma e responsáveis definidos para cada trecho das BRs 116 e 392?

A segunda pergunta é: quem pagará o novo Hospital Escola da UFPel? A emenda de bancada de 2025 já está fechada. Se a comitiva não apontar desde já o valor e o cronograma de execução para 2026, o projeto corre o risco de seguir no papel.

E a terceira: como transformar o pedido por máquinas em política pública de resiliência climática? Quantos quilômetros de estradas serão recuperados? Em quanto tempo uma enchente terá resposta? Esse é o tipo de conversa que coloca a região em outro patamar. No final de semana, escrevi aqui sobre a necessidade de menos selfies e mais resultados. Hoje, o desafio é ainda mais sofisticado. Porque, antes de perguntar a Brasília, a Zona Sul precisa combinar entre si quais respostas está disposta a construir.

Pelotas no orçamento

O governo do Estado apresentou ao Congresso o Caderno de Propostas ao Orçamento Geral da União 2026, documento que reúne 100 projetos prioritários do RS para captação de recursos federais. O material territorializa as demandas, ou seja, distribui por município as ações que podem ser incluídas nas emendas parlamentares de bancada e individuais. É uma espécie de mapa de intenções que agora depende da adesão política dos deputados e senadores gaúchos para sair do papel.

Em Pelotas, as principais prioridades estão concentradas na educação e na segurança pública. O destaque é a modernização das escolas estaduais, com investimento previsto superior a R$ 4 milhões para reformas e compra de equipamentos. O Instituto Estadual de Educação Assis Brasil lidera a lista, com previsão de R$ 1,5 milhão — valor mais alto entre as instituições contempladas. Também aparecem colégios como o Adolfo Fetter, Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, Dr. Joaquim Duval e Marechal Rondon.

Na área da segurança, o plano inclui a aquisição de micro-ônibus e camionetas para a Brigada Militar, viaturas para a Polícia Civil, além de investimentos no sistema penal e socioeducativo, com novas viaturas-cela e veículos para a Fase.

O município ainda figura em ações voltadas ao trabalho e desenvolvimento profissional, com novos equipamentos para o Sine/FGTAS.

O caminho para que essas propostas se transformem em obras, como sempre, político: cada projeto precisa ser apadrinhado por parlamentares da bancada gaúcha, que incluem as emendas ao Orçamento da União.

Assis Brasil lidera a lista de escolas (Foto: Jô Folha)

O caderno mostra uma Pelotas ainda dependente de investimentos em infraestrutura básica, como escolas, viaturas, equipamentos, mesmo que o debate local já avance para temas de maior complexidade, como logística portuária, inovação e desenvolvimento regional.

O risco necessário

A SAF do Brasil, que hoje deve se tornar realidade, é um gesto de coragem em um cenário marcado pelo conservadorismo econômico. O clube aposta em um modelo capaz de atrair investimento privado, gerar empregos e recolocar a cidade no mapa do desenvolvimento. A proposta prevê investimentos superiores a R$ 140 milhões em uma década, incluindo a modernização do Bento Freitas e a construção de um novo centro de treinamento, com reflexos diretos no comércio, nos serviços e na autoestima coletiva.
Mas é preciso separar esperança de milagre: os milhões não bastam para reverter décadas de estagnação. O verdadeiro impacto dependerá de transformar capital em pertencimento e o futebol em exemplo de eficiência. Se der certo, o Brasil terá mostrado que arriscar ainda é possível.

A alça

Pelotas pode, enfim, resolver um problema antigo. A obra de uma alça ligando a BR-471 à zona portuária, promessa de décadas, começa a ganhar contorno real. O projeto, que deve ser entregue até 2029, nasce de uma composição entre o Estado e a CMPC, dentro do pacote logístico que acompanha a nova fábrica de celulose em Barra do Ribeiro. O efeito é duplo. De um lado, tira o fluxo pesado de caminhões da Rua Conde de Porto Alegre, devolvendo à área um mínimo de convivência mais urbana. De outro, reposiciona o porto de Pelotas como peça útil no corredor de exportação da celulose gaúcha, integrando-o ao eixo que conecta Guaíba, Barra do Ribeiro e Rio Grande. Segundo Fernando Estima, da Portos RS, o movimento de cargas deve dobrar quando o sistema entrar em operação.

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