Com planos de qualificar a integração entre as diversas cadeias existentes na indústria de Pelotas, o industrial e construtor Vittorio Ardizzone assumiu a presidência do Centro das Indústrias de Pelotas (Cipel). Em chapa única de consenso, integrarão a gestão José Augusto Vaniel (1º Vice-Presidente); Ubirajara Terra (2º Vice-Presidente); Jones Wendt e Jaciara Bauer como diretores e Jorge Tuchtenhagen e Rodrigo Real Tesoureiros. Também deverá ser foco dos trabalhos fomentar novas cadeias produtivas e aproximar a entidade e o setor do poder público e das universidades. Nesta entrevista, Ardizzone fala sobre os desafios e as oportunidades da indústria pelotense.
Quais são os principais planos para o mandato?
Nosso objetivo é integrar as diversas cadeias industriais de Pelotas. O Cipel reúne nove sindicatos patronais e queremos que eles trabalhem de forma mais conjunta, gerando oportunidades de negócios e fortalecendo a representatividade da indústria local. Pelotas tem uma característica muito própria: cada setor costuma atuar isoladamente. A ideia é mudar essa cultura e estimular a cooperação. O Centro das Indústrias precisa assumir esse papel de trincheira comum, organizando as cadeias produtivas e ampliando o diálogo com a Fiergs. Também queremos incentivar o uso dos serviços do Sesi, Senai e IEL, que estão à disposição das empresas. Há setores promissores, como o de produtos para a área da saúde e o de biotecnologia, que já contam com empresas de excelência. Precisamos valorizar e reter aqui essa mão de obra qualificada que acaba indo embora por falta de oportunidades.
Como está a situação atual das indústrias em Pelotas?
Ainda carecemos de uma radiografia precisa da indústria local. Uma das metas do novo mandato é justamente fazer esse levantamento, entendendo onde estamos e para onde podemos ir. Pelotas já teve um parque industrial mais robusto, com grandes empresas e exportações. Hoje, esse quadro se retraiu, mas há potencial para retomada. Precisamos olhar com atenção para as pequenas indústrias — muitas vezes invisíveis — e ajudá-las a crescer. Infelizmente, o peso político da região é limitado, e no Brasil muitas decisões ainda são mais políticas do que técnicas. Por isso, temos que agir com as forças locais, unindo esforços de empresários, universidades, imprensa e sociedade. Onde há indústria forte, há salários melhores, arrecadação maior e desenvolvimento.
Quais são as alternativas para diversificar o parque industrial de Pelotas?
O primeiro passo é nos conhecermos melhor. Muitas empresas da cidade não se falam e buscam soluções fora quando poderiam encontrá-las aqui. Temos um ecossistema tecnológico muito ativo, com empresas de software e inovação, que ainda é pouco aproveitado pela indústria tradicional. Precisamos conectar essas frentes. A diversificação passa por reorganizar cadeias produtivas e criar sinergias entre setores. Um exemplo inspirador vem da Serra Gaúcha: lá, os industriais são concorrentes, mas também parceiros, formando clusters regionais que fortalecem toda a cadeia. Queremos aplicar essa lógica em Pelotas — trabalhar em grupo, aproveitar nossas matérias-primas e agregar valor aqui, em vez de enviar produtos brutos para fora. É uma mudança de mentalidade que exige diálogo e cooperação.
Quais são os principais problemas de infraestrutura enfrentados pelas indústrias?
Há questões de ordem tributária e logística que dificultam a competitividade. A diferença de ICMS com outros estados faz algumas empresas cogitarem transferir unidades para fora do Rio Grande do Sul. Mesmo assim, temos exemplos de sucesso que nos orgulham, como as indústrias Zezé, enlatados Schramm e tantas outras que levam produtos de Pelotas para todo o país. Isso mostra que é possível vencer as barreiras regionais. Também precisamos olhar para o futuro, explorando áreas novas, como a biotecnologia. Já apresentamos projetos à Fiergs e ao Senai para estruturar uma unidade voltada a esse segmento, aproveitando a excelência da nossa universidade e o potencial de pesquisa local. Temos cérebros brilhantes que acabam saindo da cidade — precisamos criar condições para que fiquem.
E quanto à relação com o poder público?
É uma relação de via dupla. As empresas dependem das políticas públicas, e o poder público depende da arrecadação gerada pela indústria. Recentemente, o Cipel, junto com a Fiergs, participou da devolução de parte da área do Parque do Sesi à prefeitura, para construção de uma policlínica. Isso mostra que é possível cooperar em projetos de interesse comum. Claro que podem existir divergências, mas o caminho é sempre o diálogo. Eu acredito no sentar à mesa, conversar e negociar. O ótimo é inimigo do bom — às vezes é preciso buscar soluções viáveis, mesmo que não perfeitas. O importante é entender que, quando algo é bom para o empresário, é bom para toda a comunidade. Porque é a indústria que gera emprego, renda e movimento econômico.