Com atividades semanais no Hospital-Escola, no Centro de Atendimento ao Autismo e no Núcleo de Neurodesenvolvimento da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Animal Integrada à Saúde Humana tem levado conforto e estímulo a pacientes por meio da Pet Terapia. Coordenado pela professora Marlete Brum Cleff, da Faculdade de Veterinária, o projeto envolve residentes como Fernanda Hirooka da Silva e Alessandra Aguiar de Andrade, que atuam com cães voluntários em atividades assistidas e educativas, promovendo bem-estar físico e emocional.
Como surgiu e evoluiu o programa de Pet Terapia na UFPel?
Marlete Brum Cleff: O projeto existe desde 2006 na Faculdade de Veterinária e sempre foi muito atuante na cidade. Antes da pandemia, os animais pertenciam à universidade e moravam no hospital veterinário. Com o tempo, esses pets envelheceram e foram adotados por famílias, coincidindo com a pausa das atividades durante o isolamento. Quando assumi a coordenação, resolvemos retomar o programa num novo formato: com animais que permanecem com seus tutores e participam como voluntários, preservando o vínculo afetivo e ampliando as possibilidades de atuação.
Como é feita a seleção e o treinamento dos animais que participam das visitas?
Fernanda Hirooka: O tutor manifesta o interesse e traz o animal para uma avaliação. Nem todo pet dócil com o dono reage bem com pessoas diferentes, então observamos aspectos como ansiedade de separação, comportamento em ambientes novos e reação a estímulos como cadeiras de rodas e sons hospitalares. Depois dessa avaliação, fazemos um processo de dessensibilização gradual, aumentando o tempo de afastamento do tutor e treinando comandos básicos como “vem”, “senta” e “dá a pata”. Hoje temos sete cães ativos e quatro em treinamento, de diferentes portes e temperamentos.
Existe um perfil ideal de animal para atuar na Pet Terapia?
Alessandra Aguiar: O mais importante é o temperamento. O animal precisa ser equilibrado, sociável e gostar de interagir. Não existe restrição de raça, o que buscamos é um comportamento adequado ao ambiente e ao público atendido. Também observamos as necessidades do paciente: às vezes uma criança se sente mais segura com um cão pequeno e tranquilo; em outros casos, um animal mais ativo ajuda a estimular o movimento e a interação. O que fazemos é adequar o comportamento do pet à realidade do paciente, nunca modificar sua essência.
Como os pacientes reagem à presença dos animais durante as atividades?
Marlete Brum Cleff: A chegada dos cães muda completamente o ambiente. No hospital, a tensão dá lugar à alegria, desde a equipe de limpeza até os médicos, todos se transformam. As crianças esquecem o medo, os pais relaxam e há um clima de leveza. Já no Centro de Autismo e no Núcleo de Neurodesenvolvimento, o impacto é ainda mais tocante: os animais ajudam na comunicação e na socialização. Vemos pacientes que não queriam entrar na sala de terapia se aproximarem para brincar ou acariciar o cachorro. É algo muito bonito de testemunhar.