Em comunicado ao governo do Estado, entidades da indústria do arroz da região solicitam mediação junto ao Tecon devido a problemas logísticos no embarque do arroz beneficiado que têm se estendido há dois meses. Segundo entidades como o Sindarroz e o Sindapel, a lotação do pátio de contêineres e as alterações na janela de despacho das mercadorias estão comprometendo os prazos de entrega do cereal no país e para as exportações.
A nota detalha que, em decorrência da ocupação constante do pátio, as arrozeiras têm recorrido a terminais retroportuários para o armazenamento dos contêineres antes da entrega ao terminal, o que acarreta custos adicionais. As entidades também apontam entraves causados pelas novas regras logísticas impostas pelo Tecon, como a diminuição nas janelas para a entrega de contêineres e os prazos para agendamentos.
Hub de transbordo internacional
Segundo as arrozeiras, os problemas começaram com a incorporação pelo Tecon da operação de redistribuição de cargas de grandes embarcações internacionais. Chamado de Hub Port, o novo serviço recebe os navios de grande porte e realiza o transbordo para embarcações de porte menor, com destino ao Uruguai e à Argentina.
Com a implementação do hub no ano passado, a estimativa era que a nova operação movimentasse até 170 mil TEUs por ano. A partir do aumento da movimentação, os impasses logísticos para os navios de cabotagem também teriam surgido.
Perdas em um momento difícil
O vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Arroz de Pelotas (Sindapel), Dilnei Portantiolo, afirma que as perdas financeiras provocadas pelas dificuldades no transporte se somam ao momento difícil enfrentado pelo setor, com a queda de preços e excesso de produção.
“Os contêineres dos transbordos levam de três a sete dias para serem carregados, e isso resultou em um acúmulo no Porto, faltando local para armazenar o arroz, faltou espaço para colocar os nossos contêineres”, reclama.
O diretor da Arrozeira Pelotas relata que, atualmente, 70 contêineres cheios do produto beneficiado estão parados, na fila para serem carregados. “E nós estamos com as plantas de arroz paradas aqui, em função de não ter espaço para carregar”, afirma Portantiolo.
Da mesma forma, o gerente nacional de vendas da Coradini Alimentos, Eduardo Farias, aponta o impacto nos prazos de entrega do arroz para os clientes e filiais da empresa no Nordeste. “Você fecha uma negociação com uma grande rede, o cliente compra 50 contêineres de arroz. Aí ele me pergunta: ‘Em quanto tempo você vai entregar?’ Não sei”, exemplifica.
Ajustes e série de cancelamentos
Em nota, o Tecon Rio Grande argumenta que as operações seguem de forma ininterrupta e que, visando a eficiência, foram adotadas medidas pontuais. “Circunstancialmente, ajustes são necessários para melhor atender aos nossos clientes e ao mercado com a habitual segurança, qualidade e prontidão. A situação temporária não possui qualquer relação com a implementação do ‘hub port’ no terminal”.
Já a Portos RS afirma em nota que “assim que foi procurada, a empresa pública passou a monitorar a situação, mantendo diálogo constante com o terminal e demais agentes da cadeia logística”.
Conforme a administradora dos portos do Estado, foi identificado que o acúmulo de contêineres no local estaria diretamente relacionado a uma série de cancelamentos. “Esse fator pontual gerou impactos operacionais temporários, incluindo atrasos em prazos de entrega e agendamentos”.
A manifestação ressalta que a Portos RS atua em parceria com o Tecon e com o sindicato das cargas na busca por soluções que restabeleçam a fluidez logística no terminal.
QUEM ASSINA A NOTA:
- SINDARROZ – Sindicato da Indústria do Arroz do Estado do Rio Grande do Sul
- SINDAPEL – Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Arroz de Pelotas
- FEARROZ – Federação das Cooperativas de Arroz do Estado do Rio Grande do Sul
- FEDERARROZ – Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul
O QUE PEDE O SETOR:
- Especial atenção para interceder junto aos responsáveis, de forma a buscar soluções que restabeleçam a previsibilidade e a flexibilidade necessárias ao bom funcionamento do escoamento da safra, assegurando a defesa e o fortalecimento de toda a cadeia produtiva do arroz, que é estratégica para a economia do Rio Grande do Sul.
- Colaboração e providências, no sentido de que sejam prestados esclarecimentos e, sobretudo, adotadas medidas concretas capazes de mitigar ou solucionar os impactos negativos ora enfrentados pelo setor.
AS PRINCIPAIS RECLAMAÇÕES APONTADAS NO DOCUMENTO:
- Prazo de entrega de contêineres cheios
- Antes: até 14 dias antes da operação do navio.
- Após a implementação: reduzido inicialmente para 7 dias, e, com a mudança mais recente, limitado a 5 ou até 4 dias, somente após a operação do navio. Adicionalmente, em casos de omissão de escala do navio, não há liberação de agendamento, gerando insegurança total.
- Agendamento de horários
Antes: não havia restrição, sendo possível entregar rapidamente (inclusive em até 1h após a disponibilidade do container em Rio Grande). - Hoje: exige-se antecedência mínima de 4 horas para agendamento, reduzindo a flexibilidade operacional.
- Alterações em agendamentos
- Antes: era possível ajustar livremente (placa, motorista, número do container) ou até mesmo cancelar quando necessário.
- Hoje: só é permitido realizar alterações com 6 horas de antecedência; após esse prazo, o agendamento não pode ser alterado ou cancelado, mesmo que o container não siga viagem.
- Disponibilidade de janelas
- Antes: maior número de janelas para entrega de contêineres cheios, o que proporcionava melhor escoamento da produção.
- Hoje: houve redução imediata após o início da operação do hub, agravada ainda mais pelas mudanças mais recentes. Essas restrições impactam diretamente a logística do setor orizícola, encarecendo custos, reduzindo a eficiência e comprometendo a competitividade do arroz gaúcho nos mercados nacional e internacional.