A pluralidade de ideias não pode servir como argumento para justificar discursos de ataque. E foi isso que a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) fez ao emitir uma nota de posicionamento sem se posicionar, no episódio em que, na aula inaugural da 6ª Turma Especial de Medicina Veterinária do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), o combate ao agronegócio apareceu na Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, lançada no mesmo evento.
Ser plural não significa assinar embaixo de formulações críticas que flertam com radicalismos e o combate a um setor de relevância para o Brasil, para a economia de uma nação que, pode-se dizer, em vários momentos do seu processo histórico de desenvolvimento só permaneceu de pé porque o campo esteve à frente e desafiou os piores prognósticos.
Retire o agro do PIB dos municípios da Zona Sul e veja as consequências. Retire o agro dos empregos e negócios da Zona Sul e some os prejuízos. Retire o agro da mesa da população de quase um milhão de habitantes da Zona Sul e calcule a fome. É fácil recorrer a uma bolha e se distanciar dos verdadeiros debates que precisamos.
É indiscutível o papel da UFPel no desenvolvimento regional. Ninguém reconhece mais isso do que a imprensa. O Grupo A Hora, por meio do jornal A Hora do Sul e da Rádio Pelotense, faz uso constante dos resultados alcançados pela instituição, em todos os níveis, para exaltar o compromisso do ensino, da pesquisa e da extensão com a qualidade de vida onde a universidade chega. E assim seguiremos.
Mas, enquanto veículo de comunicação, a serviço da integração e do desenvolvimento, também não podemos deixar de apontar, cobrar e mostrar nossa contrariedade ao discurso infundado que apareceu na aula inaugural do Pronera.
— Ele é raso. Ataca por atacar.
— Ele não se sustenta. Desconsidera a importância do papel do agro para o país.
— Ele é extremista. Dialoga com um cenário perigoso para a democracia.
Por isso, também somos críticos à universidade, que perdeu a oportunidade de se posicionar de forma mais lógica, como fizeram os estudantes dos cursos de Zootecnia, Engenharia Agrícola e Agronomia da instituição, ao reconhecerem o valor do agronegócio na produção sustentável mundial e repudiarem o combate com viés ideológico, que busca demonizar, criminalizar e enfraquecer o setor. Sim, vários cursos da UFPel existem há décadas por causa do agro, numa coexistência benéfica ao país.
O compromisso da Universidade Federal de Pelotas com a diversidade de ideias e a formação cidadã de seus estudantes são pilares da função social que ela cumpre. Mas também se formam cidadãos com posicionamentos diante de atos que causam estranhamento e em defesa do respeito a setores fundamentais.