A paternidade tem frases que marcam a vida do homem e ilustram o momento de quem decidiu experimentar essa máxima aventura da vida: assumir – ao lado da mãe – a responsabilidade de formar um ser humano e, lá na frente, entregar a chave do carro para ele dar uma volta com os amigos e atender o telefone de madrugada porque nenhum sabe trocar o pneu furado.
No início de tudo, o monólogo praticamente permeia a comunicação caseira.
— Precisa comprar fraldas.
É isso que ouvimos nos primeiros meses. Compromisso digno, preciso destacar. Com o preço do pacote cobrado hoje no mercado (passei os olhos esses dias e tive pena de quem está com o berço em casa), é necessário trabalhar 12 horas por dia antes que o mês se encerre e a conta bancária peça o divórcio. O valor está próximo da prestação de um carro híbrido.
Após a independência motora e cognitiva dos filhos, pais assumem o compromisso mais importante na formação dos pequenos.
— Já pagou a escola este mês?
Acordo financeiro que dura, em média, 15 anos, até o sonho do Ensino Superior bater à porta e eles decidirem pelo curso que, definitivamente, a gente nunca sonhou.
— Gaita? Como assim, gaita? E a Medicina que conversamos quando tu tinhas dez anos de idade?
A terceira frase que qualquer pai exercita como um mantra chega na adolescência, com o início das parcerias.
— Não, não podes sair hoje.
É a oração mais falsa de todas, pois nunca se materializa. O resultado é um acordar às três da manhã, a cada final de semana e feriado, para buscar o filho e a filha na casa dos amigos, em bares e festas. Com o compromisso de dar carona aos agregados que vimos crescer e acabamos adotando por tabela. Com sorte, após o roteiro pelos bairros da cidade para largar fulanos e sicranos identificados pelos sobrenomes – nunca vou me acostumar –, já no nascer do sol reencontramos a cama, sem qualquer sono.
Não reclamo da paternidade. Eu brinco. Repito as mesmas histórias de todo homem que ingressa nessa experiência universal. De viver aflições escondidas, ter orgulho com sorriso discreto no canto da boca, chorar lágrimas disfarçadas, buscar a felicidade num picolé compartilhado na praia ou dividir explosões nas parcerias do futebol.
Os pais atuais ganharam a quarta frase nessa epopeia indescritível, de um mundo com emoções distintas. Ela mostra, com o ponto de interrogação ao final, como eu e aqueles que vestem camisetas com a foto de meninos e meninas estaremos ligados para sempre:
— Pai, faz um pix?