Casos de infarto aumentam entre homens jovens no Brasil

Corpo e Mente

Casos de infarto aumentam entre homens jovens no Brasil

De janeiro a julho, o Pronto Socorro de Pelotas registrou 266 atendimentos por infarto

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Casos de infarto aumentam entre homens jovens no Brasil
Eletro é um dos exames indicados. (Foto: Divulgação)

A perda recente de um músico pelotense vítima de infarto acende o alerta para a necessidade de homens jovens cuidarem mais da saúde do coração. Sedentarismo, obesidade, má alimentação, tabagismo, incluindo o cigarro eletrônico, uso de drogas ilícitas, anabolizantes e, principalmente, o estresse têm contribuído para que o Brasil saltasse de 1,7 para 5 casos de mal súbito a cada 100 mil habitantes em 25 anos, segundo o Ministério da Saúde. Em Pelotas, essa tendência também é observada. De janeiro a julho, o Pronto Socorro da cidade registrou 266 atendimentos por infarto. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Areal, foram 54 casos no mesmo período.

O que chama a atenção é o crescimento dos casos nos meses frios. Em janeiro, o PSP contabilizou 23 infartos. Já em maio, o número saltou para 49, seguido de 48 em junho, sugerindo que o frio também é um fator de risco. O diretor do Departamento de Cardiologia da Associação Médica de Pelotas (AMP), médico Felipe Marques, explica que, além das causas fisiológicas, como a vasoconstrição, que eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca, o inverno influencia o humor e os hábitos.

“As pessoas tendem a ficar mais deprimidas nos dias chuvosos e nublados. Além disso, o frio desestimula a prática de atividades físicas e favorece o consumo de alimentos mais calóricos e menos saudáveis”, pontua. A recomendação é manter hábitos ativos mesmo durante o inverno, com caminhadas, passeios de bicicleta e corridas ao ar livre.

Prevenção para todos

Nem mesmo os atletas estão isentos. Um exemplo conhecido é o do meio-campista dinamarquês Christian Eriksen, que teve um mal súbito durante a estreia da Eurocopa de 2021, aos 42 minutos do primeiro tempo. Após se recuperar e voltar aos gramados, ele voltou a apresentar arritmia cardíaca recentemente, após o término de um jogo, e precisou ser afastado para exames.

Em Pelotas, o empresário Everson Carvalho Idiart comemora neste mês um ano de vida desde que sobreviveu a um infarto agudo aos 38 anos. Atuando há mais de 20 anos no ramo da agropecuária e à frente de um pet shop, ele acreditava estar imune a problemas de saúde. “Estava em um momento de crescimento da minha empresa, com a abertura de uma filial e um nível de estresse muito elevado”, relembra.

Com hábitos alimentares pouco saudáveis, como consumo de carnes gordurosas, tabagismo e uma rotina de trabalho de quase 18 horas por dia, Idiart sobrecarregou o órgão que dita o ritmo da vida: o coração. “A gente nunca acha que pode acontecer com a gente. Eu, por exemplo, não tinha histórico familiar, então nunca imaginei que pudesse passar por isso.” Mas aconteceu. Após um jantar com amigos, sentiu fortes dores abdominais que subiram para o peito e irradiaram pelos braços. A princípio, achou que fosse uma má digestão. Ao procurar atendimento médico, descobriu que estava infartando.

“Uma artéria estava 100% obstruída e outra entre 70% e 80% comprometida”, conta. Submetido a um cateterismo, Idiart precisou colocar um stent. “É aquela molinha que desobstrui a artéria e restabelece a circulação no coração. Nessa hora, a gente percebe como o corpo é frágil e sensível”, avalia o empresário, que mudou radicalmente seus hábitos desde então.

O cardiologista Felipe Marques acrescenta que, além dos fatores já citados, hipertensão, colesterol alto e diabetes compõem o grupo de comorbidades que aumentam o risco cardíaco. “Observamos um número crescente de infartos entre os jovens, especialmente entre aqueles que se expõem a riscos. O uso de substâncias para melhorar desempenho físico ou estético, além de drogas, pode levar a infartos precoces, antes mesmo dos 40 anos”, alerta. Ele ressalta que, nos mais jovens, a carga genética costuma ter maior influência.

Como identificar os sinais

Reconhecer os sinais que antecedem um infarto pode ser decisivo. Em muitos casos, o corpo dá alertas. O mais comum é o desconforto no peito durante esforço físico, como ao caminhar, com dor em forma de aperto, queimação ou pressão na região torácica. Essa dor pode irradiar para os braços, mandíbula, costas ou região epigástrica (boca do estômago).

“Esses sintomas podem indicar doença coronariana, principal causa de infarto”, explica Marques. No entanto, em até 50% dos casos, o infarto ocorre sem sintomas prévios, o que torna a prevenção ainda mais essencial. A única forma de identificar esses casos silenciosos é por meio de avaliação médica regular. Consultas preventivas ajudam a mapear fatores de risco como hipertensão, dislipidemia (colesterol alto), pré-diabetes ou diabetes, obesidade, sedentarismo e estresse crônico. “Ao detectar e tratar esses fatores precocemente, conseguimos evitar o infarto, mesmo quando não há sinais evidentes”, reforça o cardiologista.

Quando buscar ajuda

Em situações de emergência, o atendimento deve ser imediato, inclusive no Pronto-Socorro, especialmente quando os sintomas ocorrem em repouso e persistem por mais de 15 minutos, mesmo após o uso de analgésicos ou medicamentos habituais. Os principais sinais são: dor intensa no peito, início súbito, desconforto persistente com queimação ou aperto, irradiação para o braço esquerdo, mandíbula ou costas, e sensação de falta de ar ou cansaço excessivo. “O diagnóstico precoce reduz drasticamente o risco de sequelas e pode salvar vidas. O tempo é um fator crítico”, alerta Marques.

Se não fosse o socorro imediato, Idiart não sabe como estaria hoje. “Deus me deu a oportunidade de estar aqui contando essa história, ao lado da minha família e dos meus filhos. Muitos não têm essa sorte”, diz. Nesta nova fase da vida, ele reflete sobre metas e propósito. “Agora é trabalhar dentro dos limites, viver o dia a dia, um passo de cada vez.”

Entrevista com o especialista

Felipe Marques – Cardiologista

Quais fatores aumentam o risco de infarto em pacientes jovens?

Se há histórico familiar, principalmente em parentes de primeiro grau, como pai, mãe ou irmãos, com doenças cardíacas precoces, o risco é maior. Isso exige uma atenção redobrada. A genética é um fator de risco não modificável, mas é possível fazer um diagnóstico precoce e controlar outros fatores associados.

Como os hábitos alimentares influenciam na saúde do coração?

Manter uma alimentação saudável é fundamental. O ideal é evitar açúcar, farinha branca, alimentos industrializados e processados. Uma dieta equilibrada ajuda a manter bons níveis de colesterol, glicose, ácido úrico e peso, fatores diretamente ligados ao risco cardiovascular.

A prática de exercícios físicos também ajuda na prevenção?

Sim. Atividades físicas regulares, seja aeróbica, musculação ou ambas, ajudam muito. O mínimo recomendado é de 150 minutos semanais em intensidade moderada, ou 75 minutos em intensidade intensa. Isso melhora a pressão arterial, o metabolismo e o controle do peso.

Quais exames cardiológicos são indicados para jovens?

Não há um exame padrão. O primeiro passo é uma avaliação médica, que estimará o risco de doenças cardíacas. A partir disso, serão solicitados exames adequados ao perfil do paciente, considerando sintomas e fatores de risco.

Quando é o momento ideal para procurar um cardiologista?

Para jovens assintomáticos, a orientação é procurar um cardiologista a partir dos 30 anos. Depois, o intervalo entre as consultas varia: pode ser de um a três anos, ou com maior frequência caso haja necessidade de monitoramento mais rigoroso. Já quem tem histórico familiar, deve procurar o médico o quanto antes, até mesmo na infância ou adolescência.

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