Em entrevista concedida ao jornalista Fabiano Conte, no programa Acorda Zona Sul, da Rádio Pelotense, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, manifestou preocupação com os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Segundo ele, mais de 80% das exportações gaúchas para o mercado norte-americano estão fora da lista de exceções, o que pode gerar graves prejuízos a setores estratégicos da economia estadual.
Durante a conversa, o ex-governador parabenizou a nova fase da Rádio Pelotense, agora sob a administração do Grupo A Hora. Ele destacou o papel fundamental da emissora na comunicação regional e celebrou o reencontro com os ouvintes de Pelotas e da Zona Sul.
Tarifas dos EUA e riscos à economia gaúcha
Em relação ao novo pacote tarifário dos Estados Unidos, o ex-governador foi enfático ao criticar a postura do ex-presidente Donald Trump, classificando a medida como “absurda”. Ele afirmou que Trump mistura questões comerciais com interesses políticos, violando princípios básicos das relações internacionais.
“A tarifação não está acontecendo apenas com o Brasil. Trump também impôs taxas altas ao Canadá, México, Coreia do Sul e Índia. Isso gerou uma guerra comercial muito ruim para o mundo. Tudo aquilo que o Partido Republicano defendeu ao longo da história – livre mercado, não protecionismo – está sendo desfeito”, avaliou Rigotto.
Apesar do anúncio inicial, houve um recuo parcial. Ainda assim, 45% dos produtos brasileiros seguirão sob tarifação. Entre os itens que permanecem na lista, estão o café, fumo, carne, móveis, armas e calçados — todos de grande importância para o Rio Grande do Sul. “Até o momento, 85% do que o RS exporta para os EUA, terá taxação se não houver uma negociação que reverta o quadro”.
O setor calçadista, por exemplo, previa um aumento nas exportações após a sobretaxa imposta aos calçados chineses. No entanto, com a inclusão dos calçados brasileiros no tarifaço, estima-se que até 4 mil empregos possam ser perdidos no Estado.
Já o setor de máquinas e implementos agrícolas, responsável por 60% da produção nacional e fortemente concentrado no solo gaúcho, também ficou fora da lista de exceções. “Teremos grande dificuldade em substituir o mercado americano”, alertou Rigotto.
Diálogo e cautela
O ex-governador defendeu que o governo federal atue com firmeza, mas sem retórica política que atrapalhe as negociações. “O presidente Lula não deve usar o palanque para dizer coisas que dificultem o diálogo. Precisamos abrir todos os canais possíveis”, pontuou o ex-governador.
Ele acredita que a pressão interna nos Estados Unidos, a partir da percepção de que muitos dos produtos sobretaxados não podem ser facilmente substituídos, pode levar a uma reversão mais eficaz do que a própria via diplomática. “Isso pode mostrar ao Trump o impacto na inflação e no encarecimento de produtos no mercado norte-americano”.
Segundo Rigotto, o tarifaço atinge US$ 24 bilhões em exportações brasileiras, enquanto apenas US$ 18 bilhões foram incluídos nas exceções. Para o ex-governador, o momento exige estratégia, união e urgência nas negociações para evitar perdas irreparáveis à economia do Rio Grande do Sul.