Doces de frutas que deram vida à Fenadoce

31ª edição

Doces de frutas que deram vida à Fenadoce

Cristalizado, em calda ou em pasta, eles seguem firmes entre as tradições que consagraram Pelotas como cidade doceira

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Doces de frutas que deram vida à Fenadoce
doces cristalizados e em calda foram responsáveis por consolidar a tradição doceira de Pelotas. (Foto: Cíntia Piegas)

Quem caminha pelos corredores da 31ª Fenadoce encontra não só as novidades e releituras da confeitaria portuguesa, como também os doces cristalizados e em calda. São eles, afinal, os responsáveis por consolidar a tradição doceira de Pelotas, iniciada com a Festa do Pêssego, depois Festa do Doce e culminando na criação da Feira Nacional do Doce.

A passa de pêssego, em especial, tem papel simbólico na história da cidade. “Ela é um doce que só existe na região. Desenvolvido ao longo de décadas em Pelotas, teve papel fundamental na fama da cidade no século 19 e início do 20”, explica a diretora do Museu do Doce da UFPel, Nóris Leal. A receita, que consta no livro, Os Doces de Pelotas, de 1957, é acompanhada de uma observação que a consagra: “Esta é a receita da famosa passa de pêssego em Pelotas. É um doce que só tem na região”.

A fama do doce chegou longe. Segundo Nóris, o escritor Érico Veríssimo disse a uma escritora do Nordeste que seria “um pecado passar por Pelotas e não provar a passa de pêssego”. Antes disso, em 1920, a escritora Júlia Lopes de Almeida já exaltava a iguaria no livro Jornadas no Meu País, destacando não só sua beleza visual, mas também a forma como agrada ao coração.

Hoje, no entanto, a passa de pêssego resiste quase solitária. “Infelizmente, temos apenas um produtor em atividade”, lamenta Nóris. É na Colônia Santo Amor, no 9º distrito de Pelotas, na divisa com Morro Redondo, que Daniel Sedrez Costa mantém viva a tradição iniciada por seu pai em 1965, com o Doces do Vô Jordão. “Antigamente havia muitos produtores. Mas a crise no campo, a falta de incentivo e a evasão dos jovens para a cidade fizeram com que sobrassem poucos. Só conseguimos continuar agora com o apoio da agricultura familiar e da Emater, que nos ajuda muito”, conta ele.

O doce originário da Fenadoce, porém, já está ganhando adeptos e pode ser encontrado em mais em mais prateleiras, em uma forma de celebrar a identidade doceira da cidade. Como resume Nóris Leal, “temos que lutar para que esse doce volte a brilhar, porque ele carrega o nome da nossa cidade. Ele é de Pelotas. Ele é Pelotas”.

Os Doces Vô Jordão, mantém a tradição, mas ampliou a variedade de produtos. Em seu estande, na Agricultura Familiar, o destaque vai também para o figo cristalizado, seu carro-chefe, e outros clássicos como a marmelada branca, a goiabada, a laranja cristalizada e o “origone”, pêssego desidratado sem açúcar, ideal para pratos como arroz e sagu. “Nosso figo é verdinho e feito no tacho de cobre. Ele é sequinho por fora e caldoso por dentro. Fazemos tudo conforme as receitas tradicionais”, destaca o produtor.

Tradição francesa

A tradição é partilhada por famílias como a de Anne Crochemore, que integra a colônia francesa no 7º distrito de Pelotas. No estande da sua família, os doces cristalizados são os mais procurados da feira. “A receita é a mesma dos nossos antepassados: fruta, açúcar e nada de conservantes. O figo é o mais vendido. Mas temos também banana, laranja, abacaxi e outros”, conta Anne. Os cristalizados e os doces em calda continuam com um público fiel e o ano inteiro nas feiras livres da cidade.

Estímulo à cadeia produtiva

Na produção, há uma integração entre as agroindústrias e as cadeias locais. Apesar de algumas frutas precisarem ser trazidas de outras regiões do estado, como o figo que vem da Serra, há esforço em manter fornecedores locais, especialmente nas safras de pêssego. “A gente tenta comprar dos agricultores do entorno. Com câmaras frias, conseguimos ter o produto o ano inteiro”, afirma Anne.

Tipo exportação

A tradição permanece viva e, muitas vezes, compartilhada entre gerações. “Aqui ainda se compra doce em embalagem grande. As famílias da região da fronteira com o Uruguai, por exemplo, consomem muito doce de figo, enquanto na Argentina a tradição é com base na batata-doce”, explica Sérgio Sias, dos Doces Dona Zilda.

Ele explica que os doces cristalizados têm uma vantagem logística, por serem mais duráveis e fáceis de transportar, chegam a mercados onde os das confeitarias nem sempre alcançam. Uma caixa, por exemplo, pode durar seis meses. Já os doces em calda, um ano. E há ainda o apelo à saúde. “Muita gente procura o cristalizado por ter menos açúcar, ser mais natural, com menos aditivos”, reforça Sias.

Para os visitantes, há espaço para todas as iguarias, sendo que os cristalizados remetem ao sabor de infância e em momentos especiais. “Gosto de banana cristalizada. Mas esses doces combinam mesmo é com o pós-almoço, ainda mais quando vêm acompanhados de um copo de leite, como faziam os antigos”, diz a auxiliar administrativa Laura Dutra Prates, 39.

Quem não experimentou os cristalizados e em calda, ainda dá tempo. Nesta sexta-feira (1º), a 31ª Fenadoce abre às 14h e vai até às 22h, quando se prepara para o último final de semana com portões abertos a partir das 10h. Nesta sexta também é o último dia para votar em um dos dez nomes para a doceira da Fenadoce, pelo site oficial da Feira. Lembrando que o ingresso custa R$ 20,00 (com direito a um doce) e o estacionamento, R$ 16,00.

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