Taxação extra dos EUA ao Brasil gera insegurança ao setor de tabaco

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Taxação extra dos EUA ao Brasil gera insegurança ao setor de tabaco

Município de Canguçu é considerado maior produtor do cultivo do país, envolvendo mais de 4,9 mil famílias

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Taxação extra dos EUA ao Brasil gera insegurança ao setor de tabaco
A tarifa deve gerar impacto imediato nos preços recebidos pelos produtores familiares, avaliação o professor da UFPel, Gabrielito Menezes (Foto: Fernando Dias)

São nove mil hectares destinados ao cultivo ao tabaco em Canguçu, envolvendo cerca de cinco mil famílias. Considerado maior produtor de tabaco do país, o município produziu 18 mil toneladas de fumo em folha na última safra. A taxação de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros vem deixando o setor apreensivo, visto que cerca de 85% do fumo brasileiro é exportado, sendo os Estados Unidos o terceiro maior importador do tabaco brasileiro.

Conforme relato do presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais dos Agricultores Familiares de Canguçu, Guilherme Tessmer, da safra de 2023/2024, foram mais de 39 mil toneladas comercializadas entre Brasil e EUA. “A médio longo prazo estamos identificando uma redução da remuneração dos produtores em função do peso da exportação”, explica.

Na avaliação de Tessmer, a taxação extra dos EUA tornará 2025 um dos momentos mais desafiadores para os setores do agronegócio brasileiro, especialmente na área do tabaco. “Temos um número exponente de produtores. Canguçu é o maior produtor do Brasil, já pagamos uma taxa que não é barata – passou de 5% para 10% recentemente -, e agora se chega a 50%. Isso será extremamente prejudicial”, avalia.

De acordo com economista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Gabrielito Menezes, a tarifa de 50% sob o tabaco brasileiro vai representar aumento substancial do preço final do produto brasileiro nos EUA. “A projeção de quedas nas vendas nos EUA deve chegar até 25% em 2025”, projeta.

Impacto imediato

Também localizado na Zona Sul, o município de São Lourenço do Sul está na quarta posição do ranking nacional de maiores produtores de fumo em folha. São cerca de 3,7 mil famílias, em uma área plantada na casa dos sete mil hectares. “A produção do município gera em torno de aproximadamente 14 mil toneladas”, informa Tessmer.

Tanto em São Lourenço do Sul quanto em Canguçu, a tarifa deve gerar impacto imediato nos preços recebidos pelos produtores familiares, avalia Menezes, o que pode gerar risco de suspensão de compra e embarque de férias coletivas. “Isso aponta a necessidade de diversificação de mercados e produtos”, comenta.

Busca por outros mercados

O produtor Claudemir Schroder Becker acredita que o cenário só poderá ser melhor avaliado a partir de 2026. “Certamente vai nos afetar, pois com a taxação extra os EUA devem passar a comprar de outros países, afetando as exportações brasileiras”, diz

Becker ainda segue na esperança de uma revisão por parte do país americano, visto que na sua avaliação o setor vem passando por um bom momento. O produtor trabalha com a esposa numa propriedade de quatro hectares de fumo.

Para Tessmer, a sobretaxação em cima da indústria brasileira e do produtor brasileiro deve trazer desvalorização para o produto nacional a médio longo prazo. “Nossa alternativa será buscar outros países compradores, de outras regiões do mundo que possam absorver essa fatia do produto brasileiro exportado”, diz. Atualmente, a produção brasileira é comercializada para mais de 100 países.

Menezes destaca que algumas alternativas para minimizar os impactos do possível cenário seria o redirecionamento das exportações dos EUA para a China e Bélgica. “A ampliação da representativa do mercado asiático seria outra alternativa”, diz.
As exportações brasileiras de tabaco devem ultrapassar a marca de três bilhões de dólares em 2025, segundo projeção da consultoria Deloitte, realizado a pedido do SindiTabaco. A estimativa é de crescimento entre 10% e 15% tanto em volume quanto em valor. No Rio Grande do Sul, em 2024 as exportações de tabaco representaram 12,55% do total das exportações do Estado.

Cautela

A BAT Brasil, fundada em 1903, é líder no mercado brasileiro de cigarros. A companhia é parte do Grupo British American Tobacco (BAT), que tem operação opera globalmente, ainda levanta informações para realização de pronunciamento oficial nos próximos dias, segundo informou o setor de comunicação da empresa.

A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) também informou à reportagem do Jornal A Hora do Sul que ainda não existe um posicionamento oficial sobre os impactos que a taxação causará.

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