Entre os dias 12 e 20 deste mês, a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Pelotas, recebeu uma média de 50 ocorrências de estelionatos entre as três delegacias distritais. Um número elevado, embora as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado apontem queda de 19,79% no comparativo dos quatro primeiros meses do ano. Os tipos de golpes que passam a ser investigados são vários e vão desde os primeiros modelos que surgiram na época da pandemia – o de clonar o WhatsApp e pedir dinheiro para familiares – até os mais ousados, quando o golpista assume o papel de um delegado para extorquir dinheiro da vítima. Mas a maioria recai nas ofertas de veículos pelo Facebook, onde a fraude é descoberta após “pagamento de um sinal para negócio”.
Em todos os casos, é nítido a fragilidade com que os sistemas eletrônicos protegem os dados dos cidadãos, informados sempre que é feito um cadastro para realizar uma compra online. O engenheiro de Computação e professor da UniSEnac Pelotas, Wagner Loch explica que as empresas levam em consideração aspectos como dados indispensáveis, como nome, CPF (para emissão de nota fiscal, por exemplo), o endereço para entrega, e-mail e telefone se der algum equívoco sobre a compra. “Qualquer informação, além disso, vejo que já extrapola a finalidade da transação”, informa.
O consumidor deve ficar alerta, segundo o professor, que se pedir renda, RG, nome da mãe, ou até mesmo uma selfie ou foto de documento, é um procedimento que fere o próprio princípio da minimização de dados da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “A norma determina que a coleta de dados deve se limitar ao mínimo necessário. Esse excesso de coleta de dados, pode ser combustível para golpes, afinal, dados muito pessoais facilitam os golpistas a aplicarem fraudes personalizadas, através de engenharia social”, explica.
A própria LGPD nos dá algumas proteções quanto a coleta de dados. A empresa que está coletando, deve explicar claramente os motivos da coleta e o cliente tem direito ao acesso e correção destas informações sempre que solicitado. Alguns detalhes o consumidor deve prestar atenção, como por exemplo analisar o CNPJ da empresa, fazer uma pesquisa sobre a empresa em sites especializados (ReclameAqui) ou até mesmo em redes sociais.
Oferta imperdível
Em relação a negociações via Facebook, na avaliação do engenheiro, preços muito abaixo do mercado ou que aplicam um senso de urgência, do tipo: últimas horas, promoção relâmpago, pode sinalizar golpe. “A dica, nestes casos, é pesquisar o valor real do produto em outras lojas ou comparadores de preços.” Loch atenta para perfis de loja recém criadas, com poucos seguidores ou que tenham comentários restritos nas publicações. Estes também podem ser ciladas. “Caso a loja tenha muitos seguidores, mas as publicações tenham poucos ou nenhuma interação, fique atento.”
Alternativas de pagamento
Uma outra alternativa para os consumidores ficarem longe dos estelionatários é ofertar outras formas de pagamento que não sejam PIX ou boletos, pois estes, uma vez concluída a transação, são difíceis de contestar. “Normalmente usam nomes de laranja para receber o dinheiro. Optem por métodos mais seguros, como cartão de crédito, onde é possível serem ressarcidos”.
Gramática em ação
Uma última dica e bastante relevante do professor Wagner Loch é observar a gramática da pessoa que faz o contato via WhatsApp. “O mais evidente é analisar possíveis erros de gramática ou até mesmo de layout nos sites. Caso pareça estranho, desalinhado, ou com elementos que não carregam, é falta de cuidado, típico em sites que foram copiados e indicam fraude.
De onde vem a ligação?
Em relação ao golpe do falso delegado, a vítima realizou um pagamento de R$ 500,00 após o golpista dizer que havia uma investigação de uma suposta conversa da pessoa com uma menor de idade. O falsário chegou a fazer uma vídeo chamada e a vítima foi obrigada a pagar, caso contrário seria presa. O titular da 18ª Regional de Polícia Civil, delegado Márcio Steffens, diz que a primeira medida é observar os contatos. Por exemplo, o DDD da área, e assim, desconfiar. “A polícia não pede nada em troca ou exige pagamento em dinheiro para fazer isso ou fazer aquilo. Qualquer desconfiança, qualquer dúvida, a pessoa tem que ir numa delegacia e pedir orientações para os agentes. Antes disso, não faça nenhuma movimentação financeira”, indica.Dicas do professor:
1) fornecer o mínimo necessário de dados e caso peçam mais, questionar o motivo
2) ativar autenticação em 2 fatores em e-mails e bancos
3) se for compra online em loja desconhecida, pesquisar o CNPJ em bases públicas, ver a quanto tempo a loja existe
4) caso perceba algo suspeito, denunciar na própria plataforma
Tipos de golpes
Phishing – Criminosos se passam por empresas legítimas para obter dados pessoais e financeiros.
Golpes do PIX – Obter dados de transferências do PIX ou redirecionar o pagamento para contas falsas.
Golpes de WhatsApp – Clonar contas ou se passar por contatos para pedir dinheiro. Falsos boletos – Criação de boletos falsos na tentativa de convencer as vítimas a pagá-los.
Golpes de suporte técnico – Falsos técnicos de suporte furtam dados pessoais ou instalam malware.
Golpes de relacionamento (catfishing) – Golpistas assumem personagens para enganar e obter dinheiro ou informações pessoais.
Golpes de chamadas robóticas – Uso de números falsos ou chamadas de robôs para enganar as vítimas.
Golpes de antecipação de recursos – Criminosos promovem falsas oportunidades de ganhos rápidos, pedindo dinheiro antecipado.