Uma audiência pública sobre o fim da tração animal em Pelotas foi marcada por confusão e bate-boca na Câmara de Vereadores na noite de quarta-feira (23) e acabou sem avanços rumo a uma resolução sobre o tema. Convocada pela vereadora Marisa Schwarzer (PSDB), a reunião lotou o plenário com defensores da causa animal e representantes dos charreteiros. Em diversas ocasiões, as falas de vereadores e de autoridades foram interrompidas pelas manifestações do público.
A audiência foi convocada após as recomendações do Ministério Público do Estado (MPRS) para que a prefeitura de Pelotas proíba os veículos de tração animal na cidade. Apesar do consenso sobre uma transição de dois anos após a aprovação, nenhuma proposta de lei foi apresentada formalmente.
“Proibição é inevitável”
A vereadora Marisa destacou que a proibição da tração animal é uma tendência em outras cidades e que as propostas que se discutem em Pelotas preveem uma transição para que os charreteiros se adequem, com a substituição por veículo elétrico e com cursos de qualificação para outras profissões. “A gente não pode naturalizar a utilização de animais como força de carga”, pontuou.
O promotor Adriano Zibetti, que mais de uma vez recomendou a proibição de veículos de tração animal em Pelotas, defendeu a medida. “É um caminho sem volta. A tração animal está com os dias contados, não é aqui em Pelotas, é no mundo. O que tem que existir é a compreensão de que essa transição seja gradual e venha a assisti-los”, disse.
O secretário de Qualidade Ambiental, Márcio Souza, também participou da audiência e ressaltou que o banimento da tração animal é inevitável, seja por legislação nacional ou estadual. “Vocês estão tendo uma oportunidade única e importante, que é fazer valer as suas necessidades e chamar a atenção do poder público”, disse, antes de ser interrompido.
Defesa dos charreteiros
Representando os charreteiros, Jean Silva disse ser a favor da fiscalização e da punição para quem conduzir animais doentes e sem as condições adequadas. “Eu sustento minhas duas filhas com a charrete, pago contas com as charretes”.
Também em nome dos charreteiros, Anderson Hessler criticou a proibição e questionou o destino dos cavalos com a extinção das charretes. “Estão tirando carroças, estão tirando os cavalos dos olhos dos playboys dos centros urbanos e estão varrendo para debaixo do tapete”, disse.
Vereadora reage
O debate também foi marcado por um incidente machista, quando Hessler questionou a profissão das protetoras e foi respondido por uma mulher que gritou da plateia que era professora. “Por causa desse tipo de mulher mimizenta que esse país está virado numa joça”, reagiu, aplaudido por parte do público.
Na sessão, Marisa discursou reagindo à fala machista. “Uma mulher, uma protetora de animais que dedica sua vida a essa causa nobre, foi alvo de um ataque covarde, permeado de falas carregadas de preconceito e misoginia (…) A Câmara não pode aceitar isso aqui dentro”, pontuou, lembrando que o ato pode ser classificado como injúria qualificada por preconceito de gênero.