Com a preferência dos votos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais em outubro de 2022, contra o então presidente Jair Bolsonaro (PL), Pelotas entrou na mira dos partidários ao governo da época e agora acusados de armar um golpe de Estado. Porto Alegre também estava no alvo das lideranças que arquitetaram barreiras da Polícia Rodoviária Federal em ônibus para dificultar a chegada dos eleitores até as urnas que tinham maior preferência ao candidato do PT.
As informações estão na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente por abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Na ocasião, uma equipe de Pelotas permaneceu na BR-293, na avenida Presidente João Goulart, próximo à entrada da vila Farroupilha.
Nas 272 páginas que denunciam o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, o município é citado na 87ª. O documento da PGR enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) detalha a investigação da Polícia Federal e cita nomes como o da ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça, delegada Marília Ferreira Alencar, e do ex-diretor de Operações do MJ, delegado da Polícia Federal, Fernando Oliveira.
Marília solicitou levantamento de locais onde Lula teria tido expressiva votação e o resultado que levou até Pelotas, embora a concentração maior apontasse para o Nordeste. No documento menciona trecho das conversas como: “pelotas foi 52×36 pro lula”, “202 mil habitantes”, “cara os caras tem que rodar essas bases”, “poa também f***”, “49×39 pro lula”. Na mesma conversa o delegado Fernando respondeu: “manda o rs tem muito eleitor pt”. Para a PGR, a trama evidencia o desvio de finalidade das ações policiais do grupo.
Saiba mais
Em sua delação premiada, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cesar Cid, afirmou que na época o diretor da PRF, Silvinei Vasques – que chegou a ser preso – sempre buscou aumentar o contato com o então presidente Bolsonaro, especialmente após assumir o órgão, agindo fora de suas atribuições constitucionais. As investigações revelaram, ainda, que em reunião no dia 19 de outubro, com as presenças de Anderson Torres e Vasques, foi tratado o policiamento direcionado a ser posto em execução no dia do segundo turno das eleições de 2022.
A acusação também envolve militares, entre eles Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa. A denúncia será julgada pela Primeira Turma do Supremo, colegiado composto pelo relator, Alexandre de Moraes, e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux. Se a maioria dos ministros aceitar a denúncia, Bolsonaro e os outros acusados viram réus e passam a responder a uma ação penal no STF. A data do julgamento ainda não foi definida.
Investigação
A PRF informa que iniciou apuração em âmbito interno sobre as condutas de servidores. Os processos foram encaminhados à Controladoria-Geral da União (CGU). A PRF também encaminha, sempre que demandada, informações aos órgãos responsáveis por apurações externas que envolvam servidores da instituição, e informa que a decisão final sobre denúncias é da PGR. (Com informações da Agência Brasil).