A vida dos moradores da Zona Sul que buscam atendimento junto às prefeituras poderia ser infinitamente melhor se as gestões deixassem o mundo do papel e investissem em tecnologias voltadas aos cidadãos. É o que revela o Diagnóstico dos Serviços Digitais dos Municípios Gaúchos, levantamento realizado pelo Centro Especializado de Auditoria em Tecnologia da Informação (CETI) para o Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE).
A pesquisa buscou compreender como as localidades estão se adaptando à transformação digital e qual é a oferta à população. No caso da Zona Sul, em mais de 90% dos municípios existem apenas ações pontuais, sem estratégias estruturadas de governos digitais.
Na região, o Índice do Município mostra 52% do total no nível básico, 26% no nível inicial e 22% no aprimorado. Já o índice médio por porte indicou 91% no nível básico e apenas 9% no aprimorado — quando se refletem avanços consistentes na disponibilização e gestão dos serviços digitais. Os percentuais mais baixos no primeiro critério foram identificados em Amaral Ferrador, Candiota, Cerrito, Morro Redondo, Pedro Osório e Pinheiro Machado, todos inferiores a 20%. No segundo critério, 15 municípios registraram índice de 37,1%, o menor deles.
Para medir a disponibilidade dos serviços digitais, os gestores de todas as prefeituras foram questionados sobre quais mecanismos estão disponíveis nesse formato. Responderam sobre protocolo eletrônico e acompanhamento de processos; impostos municipais (emissão de guias, IPTU, ITBI, certidões); educação (matrículas, acesso a informações escolares); saúde (agendamento de consultas, acesso a resultados de exames); alvarás e licenças; Ouvidoria e Fale Conosco; acesso à legislação municipal; Portal da Transparência, entre outros.
As obrigações legais concentram as principais ofertas, ao lado das ações ligadas à arrecadação. Por outro lado, as prefeituras desconsideram iniciativas voltadas diretamente às demandas cotidianas. Segundo o TCE-RS, “a análise dos dados mostra que a maioria dos municípios ainda não possui um catálogo de serviços digitais consolidado e atualizado, o que dificulta a comunicação com o cidadão e reduz a visibilidade das iniciativas de governo digital”.
Para o órgão, boa parte das cidades ainda dá os primeiros passos na transformação digital. Faltam planejamento, recursos e pessoal especializado, que ajudem a tornar os serviços públicos realmente acessíveis e simples de usar. O que se entrega é apenas o obrigatório ou o que se mostra conveniente ao administrativo. O resultado é a restrição do acesso popular a ferramentas que poderiam facilitar a vida de todos. Reforça-se, também, o desinteresse municipal em aderir à autenticação unificada via gov.br, que simplificaria o acesso e aumentaria a segurança.
Diante do cenário bastante ruim, o Tribunal de Contas do Estado sugere a prefeitos e prefeitas investimentos em políticas estruturadas e iniciativas de cooperação técnica para que os municípios evoluam na digitalização de processos e promovam uma transformação capaz de tornar as ofertas acessíveis, eficientes e orientadas às necessidades da população.
No caso da Zona Sul, o mundo analógico ainda é parte da rotina das prefeituras. Atraso que costuma cobrar um preço alto quando se fala em eficiência. Eis aqui um desafio que se impõe a praticamente todas as cidades em 2026.