A arte de não pensar

Opinião

Helena Tomaschewski

Helena Tomaschewski

Estudante de Direito

A arte de não pensar

Por

Muito antes de as redes sociais gerarem o conceito de “estar presente”, esse foi um dos primeiros aprendizados passados pelo meu pai. A tecnologia cresceu e fez com que não olhássemos para os lados quando atravessamos a rua, não fixássemos os olhos nas conversas ou não tivéssemos uma refeição sem assistir às telas. E então o ser humano percebeu que foi um pouco longe demais. Ansiedade, acidentes de trânsito e alienação total do presente.

Porém, ouso dizer que meu pai foi um visionário na arte de “estar presente”. Ele trabalha com jornalismo há trinta anos. E há trinta anos ele vai e volta do trabalho a pé. Sem música, sem verificar o telefone. Apenas fazendo o trajeto e observando o que acontece ao seu redor. Uma das coisas que mais o deixa indignado é alguém não saber a informação básica do dia a dia, sobre o que aconteceu à sua volta.

Demorei um pouco para perceber que a caminhada de ida e volta significava pensar no agora, olhar em volta. No “não termos mais nada além deste segundo”.

E isso se estende para tudo na vida dele. Quando meu pai escreve, ele está apenas escrevendo. Quando corta grama, ele só pensa na grama que está cortando. Até quando está pensando, está apenas pensando. E eu consigo provar empiricamente: ele é a única pessoa na vida que eu nunca consegui assustar. Está sempre presente no momento. Nunca está com a cabeça em outro lugar para ser pego de surpresa.

Não sei se ele se dá conta da arte que pratica diariamente e que há pessoas que pagam cursos, viajam para a Índia ou passam uma vida tentando conquistar o que ele faz com muita naturalidade. Meu pai é a pessoa mais sem ansiedade que eu conheço. Eu tento. Mas, quando vejo, me pego pensando no amanhã, na minha futura casa, daqui a trinta anos… O frio no estômago cresce. Mesmo sendo filha do criador da arte de estar presente.

Caso o futuro do Jarbas não “dê certo” como jornalista — sim, eu já estou pensando no futuro dele, em um cenário fictício, mesmo ele já sendo o melhor jornalista que eu conheço —, ele pode virar coach motivacional de meditação ou algo do tipo.

Enfim, espero um dia chegar ao nível de paz de espírito do homem que deveria ter patenteado a ideia de pensar no presente há três décadas. Estaríamos bilionários — e sim, já estou, novamente, divagando em um cenário fictício.

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