Diante das dificuldades enfrentadas pela cadeia produtiva do pêssego na região de Pelotas, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) atua, em conjunto com outros atores locais e lideranças políticas, para reativar o Arranjo Produtivo Local (APL) de Alimentos, iniciativa que esteve ativa entre 2014 e 2017 e contribuiu para o fortalecimento de diferentes cadeias agroalimentares da Zona Sul.
A proposta ganhou força após uma reunião com o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo. O encontro foi realizado no começo da semana, para colaborar na construção de soluções de problemas estruturais do setor do pêssego, agravados recentemente pela supersafra, dificuldades na comercialização da fruta e perdas de R$ 5 milhões na cadeia geradas por fatores climáticos. Participaram do encontro representantes do deputado Afonso Hamm e do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas (Sindocopel).
De acordo com o professor e coordenador de Articulação, Integração e Fomento da Extensão da UFPel, Felipe Herrmann, a retomada do APL de Alimentos vai reconstruir um espaço de governança, para reunir lideranças do setor produtivo, instituições de pesquisa, órgãos de extensão rural e representantes da indústria.
“Durante o período em que esteve ativo, o APL teve papel estratégico na discussão de cadeias como a do pêssego, sucos, doces e geleias, além de ter sido o ambiente onde surgiram as compras institucionais da universidade, consideradas pioneiras no Brasil”, lembra Herrmann.
Reativação
A reativação do APL deverá ocorrer em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, responsável pela política de Arranjos Produtivos Locais. O próximo passo será formalizar o pedido via universidade e, a partir do início do próximo ano, sensibilizar novamente as lideranças do território para retomar o espaço de discussão.
Paralelamente, a UFPel também busca estreitar a colaboração com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), colocando à disposição tecnologias e conhecimentos desenvolvidos na universidade que possam auxiliar na superação dos desafios enfrentados pelos produtores. Uma primeira conversa já ocorreu durante anúncio de auxílio à cadeia produtiva do pêssego, ocorrida na última segunda-feira em Pelotas.
Agroindústrias
Além da pauta do pêssego, a universidade já desenvolve uma série de projetos a partir de demandas regionais, envolvendo análises laboratoriais para agroindústrias, e valorização de produtos com identidade territorial, como o queijo pampeano. Atualmente, mais de uma dezena de projetos estão em andamento ou em fase de implantação dentro desse modelo de atuação.
A expectativa é que a retomada do APL de Alimentos contribua para fortalecer a governança regional, integrar esforços institucionais e construir soluções sustentáveis para a cadeia do pêssego e outras atividades agroalimentares estratégicas da Zona Sul.
Unidade de Pesquisa e Projetos Locais
Segundo Herrmann, a universidade vem adotando um novo modelo de atuação territorial, baseado na Unidade de Pesquisa e Projetos Locais (UPPL). A iniciativa atua diretamente no território, identificando demandas regionais e conectando essas necessidades a projetos de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos dentro da universidade.
“A ideia é que a universidade esteja no território, ouvindo as demandas locais e, a partir disso, desenvolvendo projetos que ajudem a resolver problemas concretos da região”, explica Herrmann.
O que é um APL?
O Arranjo Produtivo Local funciona como um fórum permanente de articulação, no qual diferentes atores se reúnem para enfrentar problemas complexos de forma coletiva. De acordo com o professor, além de promover o diálogo entre as lideranças, o APL também facilita o acesso a recursos públicos e a projetos de inovação, podendo atuar como uma espécie de “escritório de projetos” para o território.
“Quando o APL está ativo, ele ajuda a organizar demandas, elaborar projetos e acessar recursos ligados à inovação, pesquisa e desenvolvimento. Isso pode ser uma alternativa importante para a cadeia do pêssego”, avalia.
Herrmann relembra que o enfraquecimento do APL de Alimentos ocorreu após a perda de uma liderança central, o que evidenciou a necessidade de um modelo de governança mais compartilhado e rotativo. A região possui experiência bem-sucedida de outros APLs, como o da Saúde e o Polo Naval de Rio Grande.
