UFPel e Furg falam em agravamento do quadro orçamentário em 2026

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UFPel e Furg falam em agravamento do quadro orçamentário em 2026

Corte de 7,05% nos recursos das universidades gerou críticas da Andifes

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UFPel e Furg falam em agravamento do quadro orçamentário em 2026
Manutenção básica da infraestrutura da UFPel deve ter cortes.

Os cortes promovidos pelo Congresso Nacional no orçamento das universidades públicas, durante a tramitação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) 2026, devem agravar o cenário de restrições já existente nas Universidades Federal de Pelotas (UFPel) e do Rio Grande (Furg). As reitoras Úrsula Rosa da Silva e Suzane da Rocha Vieira Gonçalves, respectivamente, conversaram com o jornal A Hora do Sul nesta terça-feira sobre o impacto da notícia e admitiram a necessidade de rever os investimentos.

Em nota, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) manifestou preocupação com os efeitos que a medida trará na educação superior. Em análise preliminar, a Andifes calcula para as 69 instituições federais redução total de R$ 488 milhões. 

Confira os principais trechos da conversa:

Reitora, a estimativa é de que esse corte chegue a quase meio bilhão de reais, redução de 7,05% nos recursos das universidades. Como é que a senhora recebe essa notícia?

Nós fizemos uma discussão praticamente um ano inteiro, da Andifes, dos reitores, com o MEC. A gente fez, cada universidade, também em grupo, visitas ao MEC, à SESU, para expor a nossa situação. A gente chega num histórico de cortes, que vem desde 2019, no período da pandemia. Teve um corte bastante expressivo, e não conseguimos retomar o custeio. Não é nem investimento, é conseguir pagar as contas e poder comprar o básico, que são computadores, cadeiras, essas coisas, para ter a manutenção da universidade com qualidade.

A gente já não está conseguindo fazer um planejamento para investimento em grandes equipamentos, laboratórios, enfim, realmente está num limite de possibilidades. Os nossos contratos, eles são atualizados, todos os contratos, todos os serviços são atualizados, e a gente acaba não tendo essa reposição, nem um repasse suficiente de inflação, nem um repasse suficiente que possa acompanhar esses aumentos. Então, estamos numa curva de perdas, muito grande, e com isso a qualidade do que se pode apresentar fica prejudicada.

E outra questão que se coloca, de que a educação tem que se voltar para as emendas parlamentares, isso para nós é algo bastante desgastante, porque a gente sabe o quanto as emendas têm todo um aspecto político, e nós, enquanto reitores e reitoras, temos que estar justificando o aspecto acadêmico, a necessidade das pesquisas, e pautas importantíssimas para nós. Na questão da permanência dos estudantes, nós tivemos esse mesmo corte de 7% no auxílio estudantil, então isso é um grande impacto, porque a gente quer cada vez mais poder manter as nossas bolsas.

Tínhamos no início do ano uma expectativa de déficit de R$ 19 milhões, e é importante dizer que nós tivemos um trabalho bastante importante com a nossa comunidade acadêmica, no sentido de rever custos, e tivemos limitações, especialmente nas saídas de campo, nas aulas práticas, a gente teve muita redução, e nós conseguimos chegar então, com esse apoio, desse suplemento, fechamos o ano com R$ 8 milhões de déficit. Claro que perante os R$ 19 milhões que estava se apontando, nós conseguimos otimizar, digamos assim, o nosso trabalho, mas tivemos prejuízo em termos de aula, de extensão, trabalhos que não foram feitos, e estávamos na expectativa de poder atender em 2026. Então, para nós, é muito triste, é lamentável que a gente tenha que estar justificando a importância da universidade pública e da formação superior. As universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa, e isso significa o desenvolvimento do país, significa que as pesquisas aplicadas são voltadas para o desenvolvimento econômico, social do nosso país, e a gente tem prejuízo de todas as formas.

 

Vai exigir da universidade refazer os cálculos do orçamento para 2026?

Na verdade, a gente está fazendo esse cálculo mês a mês, hoje mesmo eu tive uma reunião com a minha pró-reitora de planejamento, e o que acontece? Cada vez mais diminui as nossas possibilidades, porque a gente precisa desse custeio inclusive para as obras de manutenção. Por exemplo, nós tivemos um impacto muito grande, todas as universidades do Rio Grande do Sul, acredito que nós, a FURG, a UFPEL e a Unipampa, problemas com questão de infiltração de telhados. Então, nós temos obras a fazer, licitações de telhados, algo que impactou a partir das mudanças climáticas e que não estava nem previsto há dois anos num orçamento de universidade. É o básico. E é orçamento de custeio, de manutenção básica, então assim a gente está mês a mês, pensando nas prioridades, o que acontece é isso, acaba vendo que contas temos a pagar, que prioridades temos que dar ao mesmo tempo, porque a gente não pode desassistir as prioridades da nossa comunidade, especialmente garantindo a questão do ensino.

 

Alguns serviços poderão ser cortados em 2026?

Então, nesse momento como é que a gente faz. Entramos no mês de janeiro pagando o ano de 2025. Em princípio vai manter as nossas reduções, viagens reduzidas, saídas de campo reduzidas. Esse trabalho que se fala, nós fizemos muitas visitas a parlamentares, e a gente conta que essas emendas possam nos dar o suporte para o investimento de qualificação. Então, nós vamos tentar manter a qualidade, manter o que tivemos esse ano, porque o orçamento do ano que vem, basicamente, é o desse ano. A gente vai ter que equilibrar todas as ações, tentando não fazer cortes, mantendo as bolsas, mantendo os benefícios dos estudantes, especialmente aqueles que são mais vulneráveis. Esses serão mantidos com certeza, mas é isso, quase que fazer escolhas mês a mês. Porque se está fazendo essa economia, está com corte na carne, como a se diz.

Na Furg, ano fecha com déficit de R$ 9,5 milhões

 Como a Furg recebe a notícia dos cortes de gastos?

Nós recebemos a notícia do corte na previsão do orçamento da Universidade para 2026 com uma enorme preocupação. No caso da Furg, tivemos uma redução de 6,92% do orçamento, que corresponde a R$ 5.340.128. Esse valor aproximadamente corresponde a um mês de funcionamento da universidade, então é como se nós tivéssemos recursos para menos um mês de funcionamento da instituição.

Além disso, a nossa universidade já vem, nos últimos anos, acumulando um déficit orçamentário. Estava em torno de R$ 12 milhões e nós conseguimos, com um enorme esforço de toda a comunidade universitária, contendo despesas que impactaram no funcionamento da universidade, nas ações de ensino, pesquisa, extensão, conter em R$ 9,5 milhões. E a nossa expectativa para o ano de 2026 era conseguir administrar, melhorando algumas ações que são urgentes, como a manutenção, a retomada de saídas de campo e também continuar com algumas restrições, de modo que nós pudéssemos reduzir ainda mais o déficit.

Receber a notícia de um corte de tal monta no orçamento nos deixou extremamente preocupados com o futuro da instituição. E preocupados também na forma como o Congresso Nacional olha para as universidades do nosso país. Além de formar profissionais, nós temos um papel estratégico dentro da sociedade, na produção do conhecimento e nas atividades de extensão. Certamente, esse valor que está cortado trará impactos profundos para o funcionamento em 2026.

 

Quais as repercussões imediatas previstas?

O que estamos de imediato fazendo é rever o planejamento orçamento do ano que vem para ver em que aspecto podemos tomar medidas de contenção de despesas. Ao longo de 2025 reduzimos o uso de viaturas, a disponibilização de diárias para eventos, isso vai ser mantido. E estamos estudando que outras medidas vamos ter que adotar. Sabendo que as nossas atividades estarão impactadas por esse corte no orçamento e que nem tudo que estávamos planejando desenvolver no ano de 2026 vamos conseguir.

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