Os filmes escolhidos para este pódio de melhores do ano acabam por falar sobre personagens com batalhas internas que, em muitos casos, não conseguem existir apenas num microcosmo e acabam por entrelaçar terceiros. Talvez um lembrete de que, mesmo em meio aos nossos traumas, nunca estamos assim tão sozinhos. Miroirs No. 3, do alemão Christian Petzold, por exemplo, é um drama sutil sobre o luto e suas diferentes formas. Em diversos momentos, remete a outros filmes do realizador que tratam sobre memória e a capacidade que seus personagens têm de criar simulacros para lidar com a perda ou, em sentido oposto, de bloquear completamente algo traumático.
Já o português Pedro Pinho apresenta, em O Riso e a Faca, um filme longo — com três horas e meia de duração —, denso e que, ainda assim, não deixa de ser carismático e sensual ao cruzar presente e passado de Portugal e da Guiné-Bissau. A narrativa, que à primeira vista parece sem rumo, espelha o próprio estado de seu protagonista.
Um dos filmes mais subestimados do ano, Depois da Caçada, de Luca Guadagnino, decide navegar pelas águas turvas da cultura do cancelamento na era pós-movimento Me Too. Julia Roberts interpreta uma personagem que representa a elite intelectual, alimentada por pautas identitárias e sociais, mas que vê o passado bater à porta quando um amigo é acusado de assédio sexual. Um filme de contenções, no qual Guadagnino expõe com precisão as complexidades de seus personagens e da sociedade. Sociedade essa, com as suas contradições, que também está no centro do cinema de Oliver Laxe que, por vezes, manipula o espectador neste filme-estrada alegórico, encantador e impactante que é Sirât. Difícil sair indiferente ao que é visto: Laxe constrói uma narrativa que parte da busca de um pai por sua filha no deserto das raves do Marrocos e se expande para algo muito maior e profundamente existencial. Um estouro — literalmente.
Como melhor filme do ano, Valor Sentimental, de Joachim Trier — que estreia em 25 de dezembro nos cinemas do país —, entende o passado como a chave para lidar com as lacunas do presente. Uma verdadeira joia do ano, o realizador norueguês entrega, com delicadeza, personagens densos e um elenco afinadíssimo ao explorar relações familiares em um filme que flerta com Ingmar Bergman, mas encontra uma abordagem própria e generosa diante da ciranda de personagens que apresenta.
5 melhores filmes de 2025
- Valor Sentimental, de Joachim Trier
- Sirât, de Oliver Laxe
- Depois da Caçada, de Luca Guadagnino
- O Riso e a Faca, de Pedro Pinho
- Miroirs no. 3, de Christian Petzold