Era o fim de uma reunião longa, daquelas em que todo mundo concorda com a cabeça, troca frases educadas e sai com a sensação incômoda de que nada ficou combinado de verdade. Um dos líderes ficou para trás, me chamou de lado e disse, quase como quem admite um fracasso pessoal: “Eu contratei gente boa. Muito boa. Não era pra estar assim.”
Essa frase aparece com mais frequência do que se imagina, quase sempre acompanhada de frustração e de uma expectativa silenciosa de que competência individual deveria, por si só, resolver os problemas coletivos. Quando isso não acontece, o desconforto costuma ser deslocado para fora: o mercado, a geração, o contexto.
Eu não acredito nessa explicação.
Ao longo do tempo, vi equipes tecnicamente medianas entregarem resultados consistentes enquanto times formados por talentos excepcionais patinavam, se desgastavam e, em alguns casos, implodiam em silêncio. Também vi lideranças insistirem no erro de tentar corrigir isso com mais cobrança ou com mais cuidado, como se fosse preciso escolher um lado.
Competência individual é necessária, mas ela resolve muito pouco sozinha. Isso não é discurso inspiracional nem defesa romântica de relações humanas no trabalho. É observação prática. Pessoas podem ser excelentes no que fazem e, ainda assim, tornar o ambiente confuso, pesado ou improdutivo.
O primeiro ponto de fricção costuma aparecer na comunicação. Fala-se muito, mas registra-se pouco e confirma-se menos ainda. Frases ficam soltas, expectativas permanecem implícitas e decisões seguem abertas à interpretação. Depois, alguém se irrita com algo que nunca foi combinado com clareza. Esse é um erro comum (e caro).
Quando a comunicação melhora, surge um segundo teste, menos confortável: a disposição real de ajudar. Não o discurso bonito sobre colaboração, mas a atitude concreta de estender a mão quando isso atrasa a própria entrega ou expõe limites pessoais. Aqui muitos times travam. Ajudar dá trabalho.
Ainda assim, colaboração não é suficiente. E esse ponto costuma gerar desconforto, especialmente em ambientes que confundem cuidado com ausência de tensão. Times excessivamente protegidos evitam conflito, suavizam conversas difíceis e chamam isso de harmonia.
É nesse ponto que entra algo que muitas lideranças evitam sustentar: tensão faz parte. Quando não existe tensão, o time relaxa além do necessário. Quando só existe tensão, o time adoece. O erro não está em errar a mão de vez em quando, mas em fingir que é possível escolher apenas um lado: ou resultado, ou gente; ou cobrança, ou cuidado. Isso não funciona.
Talvez a pergunta não seja se o seu time é competente. Talvez a pergunta seja outra, mais desconfortável: que tipo de tensão você está disposto a sustentar para que ele funcione de verdade?
O lado bom disso tudo é que esses pontos todos fazem parte da arte que é gerir um time de alta performance. Se você está no jogo, aprenda a jogá-lo.