Eu sou uma pessoa muito comunicativa, e é difícil achar um assunto sobre o qual eu não tenha uma opinião — mesmo que sem nenhum conhecimento prévio, eu participo. A única conversa da qual eu nunca consigo participar é sempre a mesma: reclamações sobre mães. Mas, especialmente, a minha. Não tenho o que falar.
Sabe aquela casa da juventude que recebe todos os amigos, a qualquer hora — até o pós-festa às cinco da manhã? Essa é a minha casa. E, no outro dia de manhã, quando acordo de ressaca, pensando na bagunça que ficou, desço as escadas e encontro a minha mãe, sempre com um sorriso no rosto e a mesma fala:
— Até que horas ficaram? Eu só ouvia as tuas risadas!
A minha mãe faz o bolo que a Luiza gosta quando sabe que ela vem. Ela queria ter ido à apresentação de pole dance da Lelê. Entra no meu quarto e oferece lanchinhos para meus amigos de vinte e poucos anos. É realmente daquelas mães de cinema, ou das mulheres que “nasceram para ser mães”. Parece que ela sabe que o tempo vai passar rápido demais e precisa acompanhar cada parte da nossa existência.
Além disso, a Simoni — minha mãe — é professora e expande todo esse carinho pela juventude para cada jovem que cruza o caminho dela. Quando se é professora da rede pública, acho que se vê de perto o futuro do país, o lado político e o humano. Eu cresci ouvindo sobre como a diretora Simoni às vezes buscava alunos em casa que precisavam daquela ajuda. Como fazia cadastros para que conseguissem estágios ou cursos técnicos. Ela tratava cada adolescente como um filho. Eu via. Tratava do mesmo jeito que cuida das minhas amigas.
Como se não bastasse, somos melhores amigas. Crescemos e evoluímos juntas. Tomamos cafés da tarde quase todos os dias. Arrumamos o cabelo uma da outra. Mas o principal: eu conto tudo para a minha mãe. A mente aberta dela permite que entenda a vida de uma universitária confusa de 21 anos.
Eu sei, parece até um pouco doentio, e talvez seja. Meu psicólogo disse que nossa relação é “intrínseca”, enquanto tentava fazer um sinal de nó com as mãos.
Mas ok, se for para entrar nessa roda de conversa, sempre digo o básico que funciona, o feijão com arroz das reclamações: ela sempre fala para eu levar um casaco.