As críticas sobre a lisura ao leilão do complexo industrial da Cooperativa Sul-Riograndense de Laticínios (Cosulati), arrematado por R$ 49 milhões pela empresa Oz em dezembro de 2024, ainda gera repercussões. Em entrevista ao Programa Debate Regional da Rádio Pelotense, o deputado estadual doutor Thiago Duarte (UB), proponente à anulação do certame, disse que a ata da audiência na Assembleia Legislativa será enviada ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Tribunal de Justiça do RS, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal Superior do Trabalho e aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, solicitando a análise do processo.
O parlamentar argumenta que o complexo industrial foi arrematado por “preço vil”, muito abaixo do valor de mercado. Entretanto, na ocasião, o processo ocorreu com transparência e houve ampla possibilidade de participação de interessados. De acordo com o deputado, apenas um dos equipamentos da Cosulati teria valor equivalente ao montante pago pelo conjunto do parque industrial. Ele sustenta que a empresa vencedora não possuía, à época, capacidade econômico-financeira compatível com a aquisição, o que, segundo ele, justifica o encaminhamento do caso ao Ministério Público Federal e a outros órgãos de controle.
O CEO da Oz.Earth, Igor Elias, disse à reportagem que a mobilização não altera em nada o cronograma de trabalho da empresa que deve começar a operar ainda em 2026. Na época do leilão, a única interessada no complexo apresentou um fundo garantidor que concedeu garantias bancárias ao processo, condição que qualquer concorrente poderia ter apresentado, mas não houve interessados.
Neste período, havia recursos em trâmite e, depois do esgotamentos em todas as instâncias, foi dada a carta à arrematante. A reportagem apurou que na análise do processo judicial, a Justiça do Trabalho contratou empresa especializada em avaliação de bens e foi feito laudo técnico, não impugnado pela Cosulati e que a própria cooperativa não apresentou laudo de avaliação no processo.
Denúncias
Durante a audiência, produtores rurais relataram endividamento, contratos considerados abusivos e pressão para assinatura de financiamentos bancários vinculados à cooperativa. Segundo parlamentares e agricultores, há casos de produtores que passaram de credores a devedores, situação que teria levado famílias ao desespero.
O deputado Thiago Duarte afirmou haver relatos de suicídios relacionados à crise financeira enfrentada por produtores de leite.
Prefeitos da região Sul também relataram impactos econômicos severos após o encerramento das atividades da cooperativa, como demissões em massa e queda significativa na arrecadação municipal. As críticas se estenderam à gestão anterior da Cosulati, acusada de desvio de recursos e má administração.
Divergência
O presidente do Sindicato da Alimentação de Pelotas, Lair de Mattos, ao comentar sobre a mobilização de alguns políticos da região, diz que a ação é uma tentativa de inviabilizar a retomada das atividades da Cosulati, sendo que trabalhadores que há anos aguardam pela rescisão, poderão receber os valores, irrigando a economia da região. “Ano que vem já vão contratar uma centena de trabalhadores”, garante Mattos.
Para ele, a atual gestão da cooperativa recebeu o complexo em 2017 com 165 mil litros de leite diariamente e produtos conceituados, e por incompetência fechou cinco anos depois. “O liquidante já tentou anular o processo, mas o Tribunal Regional do Trabalho confirmou a legalidade dos trabalhos da Vara de Pelotas. Essa tentativa politiqueira e eleitoral não vai prosperar”.
