Após cerca de 11 anos travado, o projeto de implantação de uma usina termelétrica a gás natural em Rio Grande voltou ao debate público ao obter decisão favorável na Justiça para receber novamente a outorga da Aneel. Com investimento estimado em R$ 6 bilhões, entenda como seria a operação e o significado para a matriz energética gaúcha do primeiro empreendimento deste tipo a funcionar na região Sul do Estado.
O projeto prevê, além da instalação da termelétrica no Porto de Rio Grande, a construção de um terminal de regaseificação e de um píer no Terminal de Petroquímicos, Granéis Líquidos e Fertilizantes para navios que abastecerão a usina com Gás Natural Liquefeito (GNL), matéria-prima posteriormente transformada em gás natural. O GNL será importado de diferentes fontes e países, tais como Argélia, Nigéria, Catar, Trinidad e outros novos fornecedores, como Peru, Angola e Venezuela.
O produto será transportado dos navios para dois tanques de armazenamento através de gasodutos. Já no sistema de regaseificação, composto por vaporizadores e com capacidade máxima de 14 milhões de metros cúbicos por dia, o GNL será transformado em gás natural novamente, a ser convertido em energia.
Diversificação e estabilidade
O diretor-geral do Grupo Cobra, responsável pelo projeto da termelétrica, Jaime Antonio Llopis, afirma que as usinas a gás são alternativas indispensáveis para garantir a segurança energética e o fornecimento de energia de base para o crescimento das fontes renováveis. “É uma melhora também na matriz ambiental, porque as usinas termoelétricas a gás, hoje, trazem melhorias substanciais em relação a outras fontes alternativas”, afirma.
Na mesma linha, o gerente de desenvolvimento da Portos RS, Fernando Estima, aborda a relevância da geração térmica a gás como impulso para o avanço da transição energética, ao mesmo tempo em que garante a autossuficiência de energia devido à possibilidade de armazenamento. “Ela tem energia firme, ou seja, quando faltar alguma energia, você a terá sempre como backup. Então, a chegada da termelétrica a gás garante que a gente continue o processo de transição energética, mas que tenha condições efetivas de ter energia constante.”
Segurança energética
Diretora de transição energética da Federasul e da Sociedade de Engenharia do RS, a engenheira civil Daniela Cardeal salienta o papel das térmicas a gás e as deficiências energéticas do Estado expostas durante as enchentes de maio de 2024. Conforme a especialista, durante esse período, o gás natural assegurou o funcionamento de hospitais, abrigos e serviços essenciais, com mais de 8 milhões de m³ fornecidos em apenas 12 dias.
“A geração termelétrica evitou um apagão em um momento de alta vulnerabilidade. Graças a essa resiliência, mais de 90% dos consumidores mantiveram o abastecimento. Esse episódio expôs uma fragilidade estrutural relevante”, diz.
Segundo Daniela, o Rio Grande do Sul depende exclusivamente do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) e, por ser ponta de sistema, enfrenta um risco significativo de abastecimento. Portanto, ela considera que a implantação de uma infraestrutura associada à Usina Termelétrica de Rio Grande representa a criação de um segundo ponto de suprimento capaz de “reduzir a dependência de um único gasoduto, fortalecer a resiliência operacional e viabilizar um anel de abastecimento para o Brasil, com efeitos sistêmicos positivos”, conclui.
Processo de funcionamento da Termelétrica
Sistema de Recebimento de GNL: Composto pelo píer para atracação dos navios, onde serão instalados os braços de descarregamento de GNL e demais equipamentos para operação desse sistema;
Píer de atracação: O píer para atracação dos navios carregados com GNL terá uma plataforma de 450 metros de extensão e será construído no Terminal de Petroquímicos, Granéis Líquidos e Fertilizantes;
Descarregamento do GNL: A descarga de GNL do navio será feita através de três braços de descarregamento e um braço de retorno do vapor, em um período máximo de cerca de 15 horas, a uma taxa de 12.000 m³/h;
Tanque de armazenamento de GNL: Após o recebimento, o GNL será estocado em dois tanques de 80.000 m³ (volume bruto) cada, com capacidade aproximada de operação de 150.000 m³;
Sistema de regaseificação: O sistema está projetado para regaseificar até 14 milhões de Nm³/dia de gás natural, para abastecimento da UTE Rio Grande, bem como para distribuição através de gasodutos a serem futuramente interligados.
Posteriormente, o terminal também poderá ser expandido para fornecimento de GNL como combustível, que poderá ser distribuído também na forma liquefeita.