Finalista de um concurso nacional de tecnologias sociais, o projeto Idoso Conectado – Inclusão Digital Sustentável é desenvolvido pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e busca aproximar idosos do mundo digital, aliando tecnologia, saúde, educação e cuidado ambiental. Coordenador do curso de Ciências de Dados e Inteligência Artificial da instituição, o professor Carlos Vinícius Alves fala sobre a iniciativa, que já é destaque nacional e deve beneficiar inicialmente 750 idosos na região Sul do Estado.
Como professor, o senhor imaginava que a Inteligência Artificial chegaria tão longe na vida das pessoas?
Eu já imaginava que a IA teria esse salto, mas não um boom tão repentino e tão grandioso. A IA já nos acompanha há bastante tempo, mas agora ganhou uma força muito grande, principalmente com a popularização dos assistentes e das ferramentas. Para nós, é muito positivo, porque traz muitos benefícios, mas confesso que esperava que isso acontecesse de forma um pouco mais gradual.
O projeto Idoso Conectado já é finalista de um concurso nacional. Como surgiu essa iniciativa?
A Universidade Católica participou de um edital lançado pela Universidade de Brasília em parceria com a Fundação Banco do Brasil, voltado a tecnologias sociais. A ideia é desenvolver algo que possa ser replicado e que contribua diretamente com a comunidade. A partir de uma conversa com o grupo de gestão de projetos, surgiu a proposta do Idoso Conectado, que também se integrou a um projeto de extensão já existente.
Qual foi o resultado dessa seleção?
Foram inscritos 572 projetos, dos quais apenas 20 foram aprovados. Nós fomos o único projeto do Rio Grande do Sul selecionado e ficamos em terceiro lugar no país. Para nós, é uma grande honra. Estamos passando por um processo de incubação e mentoria junto à Fundação Banco do Brasil e à Universidade de Brasília.
Como funciona esse processo de incubação?
O projeto tem duração de 18 meses, com várias etapas. Já participamos da primeira fase presencial em Brasília, onde recebemos treinamentos. Agora seguimos com mentorias online e, até junho, vamos modelar e replicar o projeto internamente na UCPel. Depois, retornamos a Brasília para a apresentação final, pensando na escalabilidade e reaplicação em nível nacional.
O que exatamente é o projeto Idoso Conectado?
A ideia inicial era trabalhar a tecnologia social voltada à saúde, aproximando o idoso da conectividade e da tecnologia. Mas percebemos que o projeto vai muito além. Ele envolve saúde, educação, reinserção no mercado de trabalho e sustentabilidade.
Onde entra a sustentabilidade nessa proposta?
Nós vamos recondicionar equipamentos como celulares, tablets e dispositivos móveis que seriam descartados. Esses aparelhos recebem nossa tecnologia, com tutoriais simples e acessíveis. Assim, evitamos o descarte inadequado, reduzimos impactos ambientais e ainda promovemos inclusão digital.
Como esses equipamentos serão utilizados pelos idosos?
O idoso vai receber um aparelho recondicionado, praticamente novo. Nele haverá uma plataforma com tutoriais em vídeo, ensinando desde como acessar o YouTube e redes sociais até o uso de serviços digitais. Também haverá uma área voltada à saúde, onde ele pode registrar como está se sentindo.
Esse acompanhamento de saúde envolve tecnologia de dados e IA?
Sim. Por trás da plataforma existe um sistema de monitoramento, todo trabalhado de forma ética, com anonimização de dados. A partir disso, conseguimos gerar dashboards, mapas de calor, identificar dificuldades, quedas, problemas de saúde e outras informações. Esses dados também alimentam pesquisas e grupos de estudo dos nossos cursos, especialmente de Ciência de Dados e Inteligência Artificial.
Quantos idosos devem ser beneficiados inicialmente?
A meta inicial é atender 750 idosos. Depois, a ideia é replicar o projeto em nível nacional. Vamos começar pela região de Pelotas e municípios próximos e, aos poucos, expandir.
Como as pessoas podem contribuir com o projeto?
Vamos arrecadar doações de aparelhos que as pessoas não usam mais. A ideia é divulgar isso nas redes sociais e receber os equipamentos na universidade. Também queremos contato com grandes fabricantes para receber aparelhos que seriam descartados, mas que podem ser recondicionados.
O projeto também pensa na reinserção dos idosos no mercado de trabalho?
Sim. Muitos idosos querem voltar ao mercado, mas não têm acesso ou domínio da tecnologia. A plataforma também permite que eles se capacitem e se apresentem para determinadas atividades. A idade não pode ser um limitador. O idoso ainda tem muito a entregar.