É muito provável que estejamos assistindo ao pior Supremo Tribunal Federal (STF) da história. Assim como é muito provável que estejamos à frente do pior Congresso Nacional da história. A reboque, o governo federal faz das suas, bebe dessa contaminação e colhe frutos estragados. Ainda repercute na minha cabeça a frase do promotor de Justiça, Rogério Caldas, que entrevistei no Dia Internacional contra a Corrupção:
— Falhamos em tudo. A sociedade brasileira não se debruça naquilo que é fundamental. Acho que devemos começar lá na base. Esquecer. Esquece o que já passou. Começa do zero. Educação, educação, educação. Vamos começar a publicitar pessoas que são honestas. O bonito de ser honesto. Cultivar valores. Percepção de bons valores, de bons políticos.
O Brasil chega ao final de 2025 exausto. De quem deveria assegurar o desenvolvimento em todas as suas esferas, assim como de quem deveria garantir a harmonia pelas leis e pela defesa das leis.
O título deste artigo, um questionamento filosófico sem autor e data históricos, ressuscitou nos últimos dias pelo jornalista Fernando Gabeira, em referência ao novo (mais um) escândalo que bate à porta do Supremo. Quando você não pode mais contar com quem deveria te proteger, recorre à única arma possível: o questionamento. E é nosso o compromisso, enquanto sociedade, cobrar com força suficiente para ser ouvido.
O contrato de R$ 129 milhões encontrado no celular do controlador do Banco Master, Daniel Vorcaro, é estarrecedor aos olhos da República. Ele foi firmado pelo escritório de advocacia de Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, e identificado durante a Operação Compliance Zero. Previa pagamentos mensais no valor de R$ 3,6 milhões, durante três anos, desde 2024. O acordo estabelecia que o escritório representaria o banco “onde fosse necessário”. Vorcaro e outros executivos foram presos semanas antes. Atualmente, ele está solto, com tornozeleira eletrônica. A acusação: fraudar R$ 12,2 bilhões do sistema bancário nacional.
Mas vamos além do contrato que envolve a esposa de Alexandre de Moraes e o Banco Master. Pasmos, vimos o ministro Dias Toffoli, relator do caso no Supremo, fazer uma viagem em avião particular para assistir à final da Libertadores da América, no encerramento de novembro, dividindo o mesmo jatinho com o advogado de um dos diretores do banco acusado da fraude bilionária. Dias depois do episódio, Toffoli colocou o caso do Master, sob sua relatoria, em sigilo, atendendo à solicitação feita por um dos diretores. A alegação? Envolve informações econômicas sensíveis.
O episódio com o banco pode revelar relações perigosíssimas, conexões, esquemas, fraudes… enquanto o Brasil polariza.
Na Câmara dos Deputados, uma votação feita às 2h da madrugada da última quarta-feira rejeitou a cassação do mandato de Carla Zambelli (PL-SP), condenada a dez anos de prisão pelo STF por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Sentença definitiva. A maioria dos deputados, porém, fechou os olhos e abraçou o corporativismo. Entregou a ela um cartão de perdão. O Supremo reagiu nas horas seguintes, anulou a votação e reforçou: a perda do mandato da parlamentar está mantida, é imediata e o suplente precisa assumir.
Seguimos. O ministro Gilmar Mendes precisou recuar e suspender parcialmente sua própria decisão, segundo a qual apenas a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode apresentar pedidos de impeachment dele e de integrantes da Corte. Quase um segundo capítulo da PEC da Blindagem, que levou milhões de brasileiros às ruas para protestar contra os congressistas. Gilmar reacendeu a política do “para nós”. E o povo que espere pelas pautas mais urgentes.
Nesse cenário de tensões e nebulosidades, o presidente do Supremo, Luiz Edson Fachin, tenta apresentar ao Brasil e aos colegas um código de conduta para os integrantes de tribunais superiores. Sonha com comportamentos dentro de padrões éticos e morais compatíveis com as funções dos ministros. Fala-se em imparcialidade, neutralidade e integridade. Como se já não estivesse implícito, nas rotinas de cada um deles, o óbvio.
A lista do país das vergonhas é grande. Poderia falar aqui do “crime” cometido pelo governo federal contra os aposentados — sim, o governo federal tem sua dose de culpa no escândalo que lesou milhões de idosos. Poderia escrever aqui sobre as mais de 40 operações com prejuízos apurados pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 2025, no combate à corrupção, envolvendo auditorias em contratos, políticas públicas e serviços. Poderia registrar aqui a Operação Transparência, criada para apurar irregularidades na destinação de emendas e que envolve Mariângela Fialek, ex-assessora do ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Ele, por enquanto, não é investigado.
Eu concordo com o promotor Rogério Caldas: precisamos reiniciar e começar do zero. Nos livrar de quem deveria nos salvar. Democraticamente, trocá-los. Criar mecanismos mais fortes para que os próximos representantes sejam figuras transparentes e honestas. Em 2026, teremos a primeira oportunidade.