Me pergunto se é possível o vazio transbordar, questiono-me se essa melancolia toda que carrego dentro do peito pode ter o direito de me mover no mundo.
Às vezes, me vejo esperando algum fato, acontecimento ou metamorfose chegar, para novamente me transformar em outra pessoa. Pois me pego pensando tanto na vida, a ponto de não saber se devo manter o mesmo ritmo ou parar.
Sinto que não me reconheço como dona do meu próprio pensamento, nem como proprietária da minha própria alma.
Enquanto conversava com uma amiga, um senhor cheio de vida se aproximou e disse, contente, que já estava com seus 80 anos de idade e que estava se permitindo ser um instrumento da vida.
Ao olhar nos meus olhos, disse:
“Na vida aprendi que tudo o que temos é emprestado; o corpo que nos move é apenas um empréstimo, porque estamos apenas de passagem por aqui.”
Que empréstimo é esse que temos com a vida? Qual o preço do aluguel que devemos?
É o preço de aprender a viver.
Preciso ser honesta com você: às vezes vejo o meu mundo desabar por não estar no controle de tudo.
Todavia, se devo à vida, é justo que confie nela para aprender a compreender a mim mesma, entregando-me por completo, para que ela aproveite o espaço que sinto dentro do peito e cultive a minha própria esperança.
Para quando eu for embora, possa deixar um novo começo plantado em quem ficar.
Seja por história ou por memória, para que os outros aprendam que até o vazio pode completar quem precisa se encontrar.
Basta aceitar a trajetória passageira.