A Natureza das Coisas Invisíveis

Opinião

Renato Cabral

Renato Cabral

Crítico de cinema e membro da Abraccine www.calvero.org

A Natureza das Coisas Invisíveis

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Falamos muito de O Agente Secreto atualmente. Porém, sem diminuir o filme de Kleber Mendonça, não podemos esquecer o cinema brasileiro que corre em paralelo no circuito e que, muitas vezes, passa longe — ou rapidamente — pelas telas do país. Uma das pérolas deste ano é A Natureza das Coisas Invisíveis (2025), de Rafaela Camelo, vencedor de diversos prêmios nacionais e internacionais, que estreou nos cinemas na semana passada pela Vitrine Filmes, embora ainda inédito em Pelotas.

Muito além dos prêmios, o filme de Camelo é uma belíssima e delicada história sobre aquilo que pode ser tabu para os adultos, mas que é visto com naturalidade pelos pequenos. Crescer, às vezes, pode significar tornar-se cínico ou cético — algo que Camelo explora bem em sua trama. De forma resumida e sem entregar muito, tudo começa quando duas meninas se conhecem em um hospital. Uma delas chega acompanhando a avó, diagnosticada com Alzheimer e em estado de saúde delicado; a outra aguarda a mãe, que é enfermeira — uma mulher que se desdobra em muitas para dar conta das responsabilidades maternas e profissionais. O encontro das duas meninas e de suas mães faz florescer uma amizade e, indiretamente, uma reflexão sobre o quão tênue pode ser a linha entre dois mundos. Além disso, é notável a forma como Camelo aborda as questões geracionais.

Ao tratar do amadurecimento das jovens, a diretora recorre à espiritualidade e também à vivência trans — temas delicados, mas que aqui, impulsionados pelas atuações, são explorados de maneira leve, cuidadosa e afetiva, sem cair em maneirismos. Há uma linda naturalidade em tudo que é apresentado: a forma como os momentos mais ritualísticos surgem, a sutileza com que a transexualidade é abordada, a maneira como a amizade se constrói entre as meninas e as suas mães. Tudo isso comprova que o cinema brasileiro sabe encantar tanto na intensidade do Recife dos anos 70 quanto na contemporaneidade, com toda a sua mística espiritual e os seus temas. Que o filme encontre as salas pelotenses em algum momento.

Jafar Panahi nas salas pelotenses

Depois de ter circulado apenas em sessões de cineclubes ao longo da última década em Pelotas (como a exibição de Fora de Campo no Zero 3 Cineclube), o iraniano Jafar Panahi enfim ganhou estreia com toda pompa no Cineflix nesta semana com o seu elogiadíssimo Foi Apenas um Acidente (2025), um dos grandes candidatos nesta temporada de prêmios que se aproxima. Como toda a filmografia do cineasta: imperdível.

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