Poderes em atrito, população sozinha

Editorial

Poderes em atrito, população sozinha

Poderes em atrito, população sozinha
(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Em Brasília, parecemos viver em um mundo invertido. Enquanto o Legislativo, através do Senado, tenta exercer o papel do Executivo e indicar um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), atribuição exclusivamente do presidente. Enquanto isso, o próprio STF toma ares de Legislativo e tenta, através de decisão monocrática de Gilmar Mendes, definir que só a Procuradoria-Geral da República possa oferecer pedido de Impeachment de ministros da mais alta corte do país. No meio de tudo isso, mais uma vez, os egos fazem tanto barulho que abafam as reais necessidades da população brasileira.

É de conhecimento geral da nação que Brasília tem sua própria realidade paralela e que por lá as discussões tendem a ser extremamente centrada em pautas aleatórias conforme o interesse de seus poderes. Mas o fato é que, no mesmo dia em que a guerrinha de poder escala, as notícias apontam perda de poder de consumo das famílias e diminuição do ritmo no crescimento do PIB. Ou seja, para as pessoas é menos dinheiro no bolso, menos grana circulando no comércio e menos movimentação nos negócios em geral. Para Brasília, o que importa é quem ganha a queda de braço regada a vinho importado e caviar.

A tristeza disso tudo é que, na ordem do dia, enquanto o país vive um atrito homérico entre poderes, na ordem do dia isso não muda nada. Não é nada que vá trazer emprego para o cidadão, poder de investimento para o empresário, nem um diferencial na educação ou na geração de riquezas para o país. É só o cotovelo do presidente do Senado doendo por não ter tido seu favorito indicado para o Supremo. É só mais uma decisão absurda de um ministro que vive trancafiado em sua corte e não faz ideia de como é, de fato, a vida no país. E o Executivo, em meio a tudo isso, só olha para 2026, ano de eleição.

O cidadão, cada vez mais com a sensação de solidão diante dos poderes, não pode deixar isso lhe esmorecer, porém. Ano que vem tem eleições e o voto é a maneira de mudar os cenários. A descrença da população na política só é benéfica para o político preguiçoso ou que atua em causa própria. A mudança de cenário tem que partir da indignação popular e o voto local é uma das maneiras de começar isso. Quando se elegem figuras mais próximas das comunidades, a cobrança fica mais alcançável.

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