Cooperativa agropecuária mais antiga do Brasil obtém proteção judicial inédita

crise financeira

Cooperativa agropecuária mais antiga do Brasil obtém proteção judicial inédita

Dívidas da Cotribá, que tem uma unidade em Arroio Grande, ultrapassam R$ 1 bilhão

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Cooperativa agropecuária mais antiga do Brasil obtém proteção judicial inédita
(Foto: Divulgação)

Em meio a uma grave crise financeira, a cooperativa agropecuária fundada em 1911, Cotribá, obteve na sexta-feira um parecer favorável da Justiça gaúcha para o pedido de tutela cautelar antecedente. A proteção é considerada inédita por fornecer um escudo à empresa em relação a bancos e instituições financeiras, ao mesmo tempo em que garante prioridade de recebimento aos associados. A cooperativa deverá decidir, em até 30 dias, se encaminhará seu processo de recuperação judicial.

Considerada a mais antiga do Brasil em atividade, a cooperativa acumula dívidas que ultrapassam R$ 1 bilhão. Segundo a Cotribá, R$ 400 milhões já tinham vencimento previsto para o final de novembro, o que indicava risco iminente, já que não há caixa para quitar esses débitos.

Relatórios anexados ao processo apontam que 31 instituições financeiras cobram simultaneamente a cooperativa, algumas com ordens de bloqueio automático de recebíveis. Em Ibirubá, município onde fica a sede, o supermercado da cooperativa chegou a registrar prateleiras vazias, reflexo da incapacidade de repor estoques diante da falta de liquidez. A fábrica de rações também opera bem abaixo da capacidade por falta de insumos como milho e soja.

Atualmente, a cooperativa mantém 32 unidades espalhadas pelo Rio Grande do Sul.

Discussão inédita

O requerimento da empresa, acolhido pela Vara Regional Empresarial de Santa Rosa, é considerado inédito por estender os efeitos da Lei de Recuperação Judicial às cooperativas.

A proteção judicial suspende temporariamente cobranças, protestos e execuções, garantindo fôlego financeiro para a empresa negociar com credores. A medida é semelhante ao “stay period”, utilizado para evitar o colapso de empresas em crise antes da formalização de uma eventual recuperação judicial.

No pedido, a Cotribá argumenta que a crise decorre de uma combinação de fatores, como oscilações de mercado, impactos climáticos sobre a produção e restrições de crédito no setor agrícola.

Arroio Grande

A unidade da Cotribá, localizada às margens da BR-116, em Arroio Grande, foi atingida por incêndios em dois de seus silos nos últimos meses. Ainda assim, a administração afirma que a unidade permanece ativa, embora apenas um silo esteja em funcionamento. O armazém, porém, encontra-se em processo de venda.

Na última quinta-feira, um novo foco de incêndio nos resíduos remanescentes do último sinistro foi registrado. A fumaça voltou a atingir o centro da cidade, mas equipes do Corpo de Bombeiros agiram rapidamente para resfriar o material e evitar que um novo incêndio se formasse.

A Secretaria de Meio Ambiente de Arroio Grande denunciou o caso à Fepam e ao Ministério Público devido aos riscos à saúde da população.

Segundo a prefeitura, a procura por UBSs e Pronto-Atendimentos por pessoas com irritação na garganta e síndromes respiratórias aumentou entre 20% e 30% no último episódio de incêndio na unidade da Cotribá.

Posicionamento e alternativa

Em nota, a empresa afirmou que os associados não serão atingidos pela medida, que busca assegurar a continuidade das atividades. “Todos os compromissos assumidos com nossos mais de 9,5 mil produtores rurais serão integralmente honrados, preservando o ato cooperativo e a confiança construída ao longo de gerações”, destaca o comunicado.

Segundo a Cotribá, a ação judicial faz parte de um plano de reestruturação que inclui planejamento e formatação de alianças estratégicas para preservar mais de mil empregos diretos. Em paralelo, a cooperativa tenta fechar acordo com um investidor norte-americano, que faria uma injeção de R$ 1,9 bilhão na Cotribá.

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