Em Brasília, a nossa BR-116/392 ganhou uma nova etiqueta. O Ministério dos Transportes colocou oficialmente o trecho Camaquã–Pelotas–Rio Grande–Jaguarão–Santana da Boa Vista dentro do pacote de concessões chamado Highways 2026 e deu a ele um nome de fantasia: “Rota Portuária do Sul”. Em bom português: a estrada que a gente usa todo dia entrou de vez no catálogo de rodovias que o governo quer entregar à iniciativa privada nos próximos anos. Isso não é um final feliz, é só o começo da conversa. Não há muito o que comemorar, ainda.
O texto é pensado para banco, fundo e grande empresa. Ele mostra o tamanho do negócio, o fluxo de veículos e o potencial de receita. O que ele não entrega, por enquanto, são respostas claras para quem paga pedágio hoje e vai seguir rodando por ali amanhã. E aqui entra o dado mais importante de tudo o que foi divulgado: a mudança no mapa da cobrança.
Hoje, nesse trecho, nós temos cinco praças de pedágio. Na ficha da nova concessão aparece a previsão de 14 “pórticos a implantar”. Assim, tudo indica que o modelo vai migrar das poucas cabines tradicionais para um sistema espalhado de cobrança ao longo da rodovia, com mais lugares em que o veículo é identificado. Isso não é, por si só, uma boa ou má notícia.
No melhor cenário, esses 14 pórticos servem para diluir o valor: em vez de quase R$ 20 de uma vez, tarifas menores em cada ponto e, principalmente, cobrança proporcional à distância percorrida. Atualmente, quem sai de Pelotas para Pedro Osório paga o mesmo pedágio de quem vai até Jaguarão pela BR-116, mesmo havendo cerca de 100 quilômetros a mais na mesma estrada, com Arroio Grande no meio do caminho. É uma distorção gritante.
Com mais pórticos, não basta mudar o desenho. É obrigação do governo e da futura concessionária transformar esse novo mapa em um modelo mais justo, com tarifa menor e fim desse absurdo de tratar viagem curta e viagem longa como se fossem a mesma coisa.
Enquanto isso, um segundo tema segue sem resposta: o que vai ser da estrada entre o fim do contrato da Ecosul, em março de 2026, e o leilão previsto para 2027? Esse trecho da história continua escondido nas entrelinhas. É aqui que entra a camada política da Zona Sul. Não é hora de selfie comemorando “entrada na carteira”, nem de nota protocolar agradecendo ministério. É hora de aumentar a pressão, especialmente para a vinda do Ministério dos Transportes à região, algo previsto para novembro e adiado para dezembro.
Eleição marcada
A Câmara de Vereadores marcou uma sessão extraordinária para o dia 2 de dezembro com para realizar a eleição que renova a Mesa Diretora. Isto é, escolher quem vai comandar o Legislativo em 2026, definindo a presidência e os demais cargos da direção. A publicação no Diário Oficial cumpre o rito de comunicar a eleição com, pelo menos, cinco dias de antecedência. O edital marca, de forma específica, a primeira sessão às 8h30min do dia 2. Pelo Regimento, se por qualquer motivo a eleição não se concretizar ou não for concluída nessa sessão, o presidente deve convocar a Câmara para o dia seguinte e, se necessário, para os dias subsequentes, até concluir a escolha da Mesa. Ou seja: o edital fixa data e hora para o primeiro round, e a partir dali, entram em cena as novas convocações e o jogo político.
Hoje, há um acordo assinado por 16 vereadores para eleger Michel Promove (PP) como presidente. Ficaram de fora desse documento Fernanda Miranda (PSOL), Jurandir Silva (PSOL), Ivan Duarte (PT), Ronaldo Quadrado (PT) e Rafael Amaral (PP). Ou seja, existe um bloco já organizado em torno de um nome, enquanto a base do governo ainda não apresentou publicamente um candidato para entrar no jogo.
Nos bastidores, a situação tenta atrair o PSD, que conta com quatro vereadores, e a briga em torno da causa animal pode fazer com que a vereadora Marisa Schwarzer (PSDB) reverta o compromisso de voto assumido com Michel. O governo tenta, nos bastidores, reduzir a margem de vantagem da oposição e construir uma alternativa. Entre recuos discretos, promessas de cargos, pressões partidárias e conversas de corredor, o certo, por enquanto, é que dezembro promete ser quente na Câmara, e não é só por causa do verão.
Promessa cobrada
Os agentes comunitários de saúde e de endemias de Pelotas voltam a se reunir nesta quinta-feira com a prefeitura em busca de uma garantia: o pagamento do Incentivo Financeiro Adicional (IFA) ainda em dezembro. Segundo a categoria, o benefício, que é equivalente a dois salários mínimos e repassado todos os anos pelo governo federal aos municípios, não foi pago nos últimos oito anos de gestão da ex-prefeita Paula Mascarenhas (PSDB).
Na campanha eleitoral do ano passado, o então candidato Fernando Marroni (PT) e o também candidato Fernando Estima (PSDB), que acabou não eleito, assinaram um compromisso de retomar o pagamento do IFA. Agora, os agentes querem a confirmação de que a promessa será cumprida e de que o valor cairá na conta no próximo mês.
A legislação permite que o recurso seja direcionado a investimentos em materiais de trabalho, em vez de ser repassado diretamente aos servidores. No entanto, os agentes relatam que nem o incentivo é pago, nem há melhoria efetiva nas condições de trabalho: faltam materiais básicos, uniformes adequados e até protetor solar em condições de uso.