Pouco mais de um mês após a visita do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a discussão sobre o futuro do aeroporto de Rio Grande volta ao debate político. Na ocasião, o ministro sinalizou que estuda modelos para revitalizar a estrutura e transformá-la em um terminal regional de cargas, integrado ao porto e aos demais modais logísticos. Um levantamento de demanda deve ser concluído nas primeiras semanas de dezembro.
Durante a passagem por Rio Grande, em outubro, Costa Filho afirmou que o governo trabalha em conjunto com a prefeita Darlene Pereira (PT) e com o deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT) para discutir “a melhor modelagem” para a estrutura. Segundo ele, Rio Grande reúne condições logísticas favoráveis: ligação com a BR-392, proximidade do porto e espaço para terminais de carga.
Deputado defende integração logística
Liderança na defesa do tema em Brasília (DF), Lindenmeyer considera o aeroporto estratégico para diversificar modais e aproximar a aviação do porto. Ele afirma que um levantamento sobre demanda e perfil de cargas já está em andamento e deve ser apresentado na primeira quinzena de dezembro ao ministério. O estudo inclui possíveis empresas interessadas.
“É um aeroporto com pista de 1,9 mil metros, a dois quilômetros da ferrovia e a oito quilômetros do porto. Essa integração logística é extraordinária”, argumenta o deputado.
Para o parlamentar, o uso do aeródromo não competiria com o aeroporto de Pelotas, voltado ao transporte de passageiros. Ele argumenta que Rio Grande teria vocação específica para cargas e poderia funcionar também como alternativa em dias que Pelotas não desse cabo, evitando custos extras às companhias.
Lindenmeyer diz ainda que o modelo de financiamento (que pode ser via União, concessão ou outra forma ainda definida) dependerá da comprovação de demanda e sustentabilidade econômica.
Federasul vê necessidade, mas defende outras prioridades
Já o vice-presidente de Infraestrutura da Federasul, Antonio Carlos Bacchieri, reconhece que existe demanda logística, especialmente nas trocas de tripulação de navios, transporte rápido de peças e exportação de pescados: “Demanda existe, necessidade existe”. Apesar disso, ele considera que investir pesado no aeroporto de Rio Grande hoje não seria a melhor aplicação de recursos.
Para Bacchieri, a proximidade com o aeroporto de Pelotas, em boa fase após a ampliação de voos, torna arriscado dividir operações comerciais entre cidades tão próximas. Ele também aponta limitações estruturais e a necessidade de “nacionalizar” o aeroporto, que hoje pertence ao sistema estadual, para fazer a ampliação. “A verba é pouca, e temos obras mais urgentes: o lote 4 da BR-392, a ponte Rio Grande–São José do Norte e a segunda ponte do canal São Gonçalo”, afirma.
Palavra do Estado
A Secretaria de Logística e Transportes afirmou em nota que o aeroporto de Rio Grande tem importância estratégica para o Estado, servindo como base logística em emergências – como nas operações da Marinha na enchente de 2024 – e para a aviação executiva. A estrutura integra o Plano Estadual de Logística de Transportes, que está sendo elaborado e definirá diretrizes para o desenvolvimento da infraestrutura aeroportuária.
Segundo a pasta, a economia local é atendida atualmente por outros modais mais adequados ao escoamento de cargas, mas o aeroporto receberá um plano tático específico para definir requisitos e necessidades de pistas e terminais. O Estado segue em diálogo com o Ministério de Portos e Aeroportos e com a Aviação Civil, e o Plano Aeroviário Nacional classifica o terminal como complementar.
Tema segue em análise
O futuro do aeroporto de Rio Grande depende agora da conclusão do levantamento de demanda e da decisão do Ministério de Portos e Aeroportos sobre o modelo de intervenção. A definição deve avançar nas próximas semanas, quando o estudo solicitado por Brasília for apresentado oficialmente.