Uma pesquisa que reúne dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento (Sinas) indica que as perdas na distribuição de água seguem altas no país e comprometem a eficiência dos sistemas de abastecimento. Pelotas está entre os municípios analisados, com estimativa de perdas entre 40% e 45%, percentual semelhante à média nacional registrada em 2023, de 40,3%.
De acordo com o levantamento, apenas 21 dos 100 maiores municípios do Brasil apresentam níveis de perdas inferiores a 25%, considerados adequados. Já 14 cidades têm índices superiores a 50%, cenário que reforça a urgência por medidas estruturais, realidade que se aproxima do desafio enfrentado em Pelotas.
Causas e impacto das perdas
As perdas decorrem de vazamentos, falhas de medição e consumos não autorizados, e são vistas como um indicador direto da qualidade da gestão do abastecimento. Em períodos de estiagem recorrente, como os vividos nos últimos anos no Rio Grande do Sul, o problema se agrava.
A professora do Curso de Gestão Hídrica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Danielle de Almeida Bressiani, ressalta que o município convive com índices elevados de perdas e que a situação é semelhante à encontrada em diversas partes do Brasil.
“Pelotas tem um grande problema com perdas no sistema de abastecimento. É uma realidade brasileira e até mundial. O Estado está muito próximo da média nacional”, afirma.
Segundo ela, o Sanep ainda trabalha para obter dados mais precisos, já que a ausência de macromedições impede a confirmação exata desses índices. “Há um projeto em andamento para ampliar as medições e melhorar o entendimento do quanto realmente está sendo perdido. O cadastro técnico do sistema também está sendo atualizado, o que é essencial para avançarmos”, explica.
A pesquisadora reforça que, em cenários de estiagem, cada litro de água conta. “Quando estamos mais vulneráveis à escassez hídrica, as perdas representam um agravante importante para o funcionamento adequado do sistema e para garantir pressão e quantidade suficientes a todos os habitantes”, completa.
Ações do Sanep
O diretor-presidente do Sanep, Ellemar Wojahn, afirma que a autarquia vem intensificando as ações de combate às perdas. Entre as iniciativas recentes está a instalação de macromedidores em unidades de abastecimento, como reservatórios e estações de tratamento, para mensurar com maior precisão as grandes vazões. Ação citada pela professora Danielle. “Esses equipamentos permitem maior controle entre a produção e a distribuição de água”, explica. Na prática, o sistema ajuda a identificar desperdícios em diferentes fases do processo, contribuindo para a correção de falhas.
Wojahn destaca ainda o trabalho do Centro de Controle e Operação (CCO), que integra informações de produção e consumo em tempo real. “O sistema opera de forma autônoma e reduz significativamente as perdas físicas e comerciais”, afirma. A autarquia também intensifica ações de detecção de fraudes, combate a ligações irregulares e substituição de hidrômetros com mau funcionamento.
Economia e projeções
Em âmbito nacional, o relatório utilizado na pesquisa aponta que o Brasil poderia economizar bilhões de reais nos próximos anos caso reduza seus índices de perdas, considerados entre os mais altos do mundo. O estudo projeta cenários até 2034:
- Otimista: perdas chegam a 15%, patamar comparável ao de cidades como Tóquio e Cingapura;
- Realista: redução para 25%, alinhada à Portaria 490/2021;
- Pessimista: o país alcança apenas 35%, ainda elevado frente a padrões internacionais.
