Pelotas encerra 2025 com um desafio crescente: enquanto os homicídios caíram, foram seis desde o início do ano, o trânsito tornou-se mais letal do que os crimes contra a vida. De acordo com o Detran/RS, 25 pessoas morreram até outubro, mas levantamento da reportagem revela outras cinco vítimas em novembro, incluindo casos de feridos que não resistiram após dias de internação.
O poder público aposta em reforço de fiscalização e tecnologia para tentar reverter o cenário. O novo radar portátil da Prefeitura está na etapa final de aferição pelo Inmetro e deve ampliar o monitoramento de excesso de velocidade. As vias fiscalizadas estão recebendo sinalização prévia. Entre janeiro e outubro, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTT), por exemplo, realizou 186 operações, abordou 3.381 veículos, emitiu 1.520 notificações e recolheu 143 automóveis. Segundo a pasta, essas ações contribuíram para significativa redução na última década.
Mesmo com o aumento da frota alta de 22,7% em dez anos, Pelotas conseguiu reduzir óbitos: nas vias municipais, as mortes caíram de 38 (2015) para 18 (2025, até outubro). Ainda assim, ultrapassagens indevidas, desrespeito ao limite de velocidade e avanço de sinal continuam entre as principais causas de colisões graves. Só neste ano, 1.019 motoristas foram flagrados passando no vermelho.
A SMTT estuda instalar novos controladores de velocidade e avanço de sinal em áreas de intenso fluxo de pedestres, como escolas e hospitais. A pasta também prevê ampliar o videomonitoramento em parceria com a Guarda Municipal. O projeto inclui câmeras e sensores em semáforos, seguindo normas da Resolução 909 do Contran.
Para 2026, estão previstas ações reforçadas de educação no trânsito, intervenções em pontos críticos e ampliação da fiscalização. O foco é combater comportamentos que mais provocam mortes: excesso de velocidade, avanço de sinal e distrações ao volante.
Pelas rodovias federais
Nas estradas que cortam a região, o cenário não é diferente. O coordenador de Tráfego da Ecovias Sul, Nicolau Delucis, afirma que grande parte dos acidentes é causada por falhas humanas: distração, celular, álcool, imprudência e falta de manutenção dos veículos. A concessionária mantém o Programa de Redução de Acidentes (PRA), que analisa todas as ocorrências graves para propor melhorias e campanhas educativas. “Mesmo com infraestrutura adequada, é fundamental que o condutor faça a sua parte: respeite a velocidade, não use celular e cuide dos mais vulneráveis”, reforça.
Os riscos no final do ano
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também registra maior exposição ao risco nos meses que antecedem o fim de ano e a temporada de verão. O chefe da 7ª Delegacia da PRF em Pelotas, Daniel Pitrez, explica que o fluxo aumenta, assim como a pressão por prazos, o que leva a comportamentos perigosos como velocidade excessiva e menor tempo de descanso. A corporação intensifica comandos de embriaguez e fiscalização de velocidade.
Vias duplicadas ou bem conservadas, segundo Pitrez, tendem a induzir velocidades maiores, por transmitirem sensação de segurança. “Por isso, trechos críticos recebem radar móvel conforme análise de dados e mapas de calor dos acidentes”, destaca.
Atenção redobrada
Com relação à problemática entre caminhões e motocicletas, Pitrez diz: “A diferença de massa, os pontos cegos e a vulnerabilidade dos motociclistas aumentam muito a gravidade das colisões”. A PRF mantém ações educativas contínuas em empresas e comunidades para tentar reduzir esses números.
Cinco mortes este mês
Uma das mortes contabilizadas em novembro, no dia 17, foi de um motociclista que foi atingido por um caminhão-guincho que contornava a avenida Presidente João Goulart (BR-293) para acessar o posto e não viu o condutor que morreu a caminho do Pronto Socorro. No dia 11, um motociclista morreu após dias internado na UTI. No dia 16 de outubro, ele pilotava sua motocicleta quando foi abalroado por uma caminhonete que fugiu do local. Atendentes de um estabelecimento prestaram socorro.
Ainda neste mês, nos dias 7 e 4, dois idosos morreram atropelados. Um na avenida Ildefonso Simões Lopes e outro na Doma Joaquim com JK. Por fim, no dia 2, um jovem motociclista morreu, após ficar alguns dias internado. Ele trafegava pela avenida Ildefonso, quando o cavalo de uma charrete cortou sua frente fazendo com que o tronco de madeira do veículo de tração animal o jogasse para longe. O acidente foi no dia 28 de outubro.
