Yorgos Lanthimos recolocou o cinema grego no mapa em 2009 com Dente Canino, uma narrativa peculiar sobre uma família disfuncional em que um casal cria os filhos adolescentes isolados da sociedade, até que os jovens começam a se rebelar contra o sistema imposto. Rebeldia e sistema são palavras constantes em um cinema que busca refletir sobre poder, corrupção e o que há de sombrio tanto nos personagens quanto na humanidade. Temas igualmente presentes em seu filme mais recente, Bugonia (2025), que estreia nas salas brasileiras no próximo dia 27 de novembro.
Partindo do longa sul-coreano Save the Green Planet! (2003), Lanthimos realiza um remake atualizado para os dias atuais e para a conjuntura dos Estados Unidos: um país tomado por teorias conspiratórias, big techs e polarização política. Aqui, uma CEO (Emma Stone) é sequestrada por dois homens que afirmam que ela é uma alienígena dedicada a desestabilizar o planeta e seus recursos — especialmente as abelhas. É nesse ponto que o título do filme ganha sentido: ele se baseia em uma antiga crença grega segundo a qual o simbolismo da morte e ressurreição se manifesta a partir do surgimento de abelhas nas carcaças de touros ou vacas sacrificados. Hoje, essa ideia é interpretada como o nascimento de uma nova vida após o colapso de um sistema corrupto.
Mesmo trabalhando em uma refilmagem, Yorgos não deixa de inserir detalhes muito próprios, criando pontes entre suas obras, entre elas, Dente Canino. Entre beleza e caos, o diretor é certeiro ao omitir informações, permitindo que o público preencha lacunas e absorva momentos de simbolismo. Há apenas um problema em sua imprevisibilidade: nessa ciranda entre verdades e mentiras e nos jogos de poder, algo por vezes se perde em meio ao surrealismo. Ainda assim, é inegável que Lanthimos permanece como um dos realizadores mais enigmáticos e instigantes da atualidade.