Uma tecnologia capaz de detectar, por meio de pequenos peixes epigeneticamente alterados, contaminações ambientais e antecipar os efeitos dos poluentes gerados em animais e pessoas. Essa é a patente licenciada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), visando transferir a tecnologia para aplicação no mercado. Com a autorização, a inovação poderá ser empregada na indústria e em serviços voltados ao monitoramento ambiental.
A licença foi obtida pela Ciclo Biotecnologia Ambiental e Sustentabilidade, uma startup de Pelotas com atuação em soluções ambientais para demandas do setor produtivo. Conforme o site da empresa, a patente denominada EcoToxGen é um teste que oferece “uma avaliação ecotoxicológica da toxicidade em efluentes e contaminantes emergentes, auxiliando empresas e órgãos reguladores na tomada de decisões sustentáveis”.
A tecnologia foi desenvolvida durante dois anos no Laboratório de Genômica Estrutural da Biotecnologia da UFPel, fruto da tese de doutorado do estudante Antônio Duarte Pagano. Segundo o pesquisador, a tecnologia representa um avanço significativo nas práticas de monitoramento ambiental e ecotoxicologia, ao oferecer uma ferramenta moderna e altamente sensível para avaliar os impactos de contaminantes em organismos aquáticos.
Professor e orientador de Pagano, Vinicius Campos explica que a alteração epigenética de microRNAs realizada em peixes da espécie zebrafish faz com que os animais tenham uma resposta biológica a poluentes que permite a identificação de contaminantes. O método patenteado utiliza a expressão de genes e microRNAs como biomarcadores moleculares para identificar e quantificar efeitos tóxicos decorrentes da exposição de peixes.
Em termos de funcionamento, o teste é semelhante ao PCR utilizado para detectar Covid-19. “Eu estou avaliando, por PCR, esses microRNAs. Dependendo da quantidade em que eles estão no bicho, é possível saber se houve ou não uma alteração de contaminação”, explica.
Antecipação dos efeitos da poluição em seres vivos
A vantagem de verificar poluentes por meio dos peixes, em vez de medir diretamente, é que esses animais adiantam os efeitos da contaminação que serão observados em outras espécies e nos seres humanos. “E esse tipo de microRNA é um marcador que identifica o efeito biológico bem no início. Ele não espera ter nenhum efeito pré-clínico. Antes de o processo biológico começar, eu já consigo prever que vai acontecer tal coisa”.
Fortalecimento do ecossistema de inovação da UFPel
Conforme Campos, o licenciamento de patentes evidência a relevância dos produtos e soluções gerados pela produção intelectual da Universidade e a importância da proximidade com o empreendedorismo científico. “Essa empresa que licenciou, que pegou essa tecnologia, tem até dois anos para colocar isso no mercado.” Com a comercialização do produto derivado da patente, a UFPel passa a receber royalties.
