As trapalhadas do debate sobre a Lei Antifacção no Congresso nacional dão o tom de um país que tem muitas dificuldades de formular políticas públicas sólidas, sobretudo no campo da segurança pública. O troca-troca do texto, a enorme quantidade de pessoas opinando e a falta de convicção e embasamento técnico dentro do projeto mostram que, mais uma vez, a discussão é única e exclusivamente política e sequer tem pretensão mínima de levar a cabo uma ideia prática e eficiente.
O Brasil não tem uma sólida política pública de segurança e isso é o facilitador que permite que tenhamos facções com capacidade financeira que lhes permitiriam inclusive estar listadas na Bolsa de valores. Bilhões de reais são movimentados, milhares de vidas ceifadas e dezenas de milhares de pessoas são seduzidas pelo crime justamente por jamais termos sido capazes de criar uma ideia prática e funcional que realmente ajude a enfrentar a criminalidade de maneira organizada. Ironicamente, o crime organizado é realmente mais organizado que o Estado brasileiro.
É ilusão pensar que uma lei única vai fazer o país vencer organizações criminosas tão sólidas e estruturadas. Há que se ter um processo sólido de desmonetização dessas entidades, de educação para evitar que eles sejam aliciados e de ações bem pensadas a nível policial para desmobilizar seus “soldados”. Para além disso, a estrutura nacional deve ser respeitada. Hoje, pensamos muito na segurança a nível de estados e há claros desalinhamentos entre o que pensam políticos a nível federal, estadual e municipal, seja por ideologia, seja por visão de mundo.
Pelotas e Rio Grande, com seus pactos, deram exemplos de ações estratégicas para diminuir a criminalidade. Não podemos sonhar que repetir a nível nacional terá o mesmo resultado, mas são as provas de que alinhar entes em torno de uma ideia e aplicar ciência para além de qualquer ideologia na segurança pública é o caminho para os resultados.