Uma longa fila em frente à Farmácia Municipal, na rua Professor Doutor Araújo, chamou a atenção de quem passou pelo local nesta quinta-feira (13) em Pelotas. O movimento foi motivado pelo mutirão de troca dos aparelhos de medição de glicose (glicosímetros) por novos modelos, ação promovida pela prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
As substituições seguem nesta sexta-feira (14), das 9h às 17h, e atende a quase 3,5 mil pacientes cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS) que fazem uso do equipamento e recebem gratuitamente as fitas reagentes. A ação coincide com o Dia Mundial do Diabetes, celebrado na sexta.
Muitos usuários chegaram ainda de madrugada para garantir o atendimento. Entre eles, Elza Antonieta Costa, de 67 anos, que aguardava para retirar o aparelho destinado ao marido, Jadir, de 69, diagnosticado com diabetes há 12 anos. “Representa a vida dele. Sem o aparelho e as fitinhas, é impossível controlar o açúcar. Ele entra em crise”, contou a aposentada, que relatou ter ficado cerca de seis meses sem as fitas por falta de fornecimento.
De acordo com o coordenador da Rede de Assistência Farmacêutica do Município, Fabian Primo, o mutirão foi organizado para agilizar o processo de substituição dos aparelhos antigos, que se tornaram incompatíveis com as novas fitas adquiridas por licitação. “A troca é necessária porque as fitas novas não funcionam nos aparelhos anteriores. O mutirão facilita esse atendimento, mas quem não conseguir vir nesses dois dias poderá fazer a troca a partir de segunda-feira, na Farmácia Municipal e nas unidades distritais”, explica.
Primo ressaltou ainda que há fitas e aparelhos para todos os usuários cadastrados. “A preocupação das pessoas é compreensível, porque houve um período de falta, mas agora o fornecimento está regularizado. Cada paciente tem direito a 100 fitas por mês, conforme o protocolo municipal de diabetes”, garante. De acordo com a nutricionista Etiene Alves que atua na prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) da Secretaria de Saúde, o número total de pacientes com Diabetes Mellitus que estão utilizando Insulinas é de 3.415 e os que não usam, 5.483. “As gestantes com diabetes gestacional também podem retirar”, alerta.
A entrega dos glicosímetros ocorre mediante apresentação de documentação: receita médica atualizada do SUS com indicação de uso da insulina e do aparelho para controle da glicemia, Cartão SUS, documento de identidade, comprovante de residência e planilha de acompanhamento da glicose. O equipamento é concedido em regime de comodato, ou seja, o paciente assume a responsabilidade pelo uso e conservação.
Conscientização e prevenção
A mobilização na Farmácia Municipal ocorre justamente na semana em que se celebra o Dia Mundial e Nacional do Diabetes, em 14 de novembro. A data foi criada em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Segundo o IDF Diabetes Atlas de 2024, 589 milhões de adultos entre 20 e 79 anos vivem com a doença, e, no Brasil, a estimativa é de 16,6 milhões de pessoas.
O diabetes mellitus é uma doença crônica caracterizada pela produção insuficiente de insulina ou pela resistência do organismo à sua ação. A insulina é o hormônio responsável por regular a glicose, o açúcar obtido dos alimentos, e transformá-la em energia. Quando esse mecanismo falha, ocorre o aumento da glicemia no sangue, o que pode causar complicações graves no coração, nos rins, nos olhos e nos vasos sanguíneos.
Mais ações
O Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), vinculado à Ebserh, reforça a importância do diagnóstico precoce, da prevenção e da adoção de cuidados contínuos para evitar complicações graves. O endocrinologista Jivago Lopes, preceptor do Programa de Residência em Endocrinologia e Metabologia da UFPel, preceptor do Ambulatório de Diabetes Tipo 2 e integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Diabetes do Rio Grande do Sul (SBD-RS), destaca que o diabetes é muitas vezes silencioso e pode permanecer sem diagnóstico por anos. “Quando o diagnóstico é tardio, o excesso de glicose no sangue já pode ter causado danos importantes. O rastreio regular e o acompanhamento contínuo são fundamentais para mudar a história natural da doença”, afirma.
De acordo com o Ministério da Saúde, há diferentes tipos de diabetes:
- Tipo 1: ocorre geralmente na infância e adolescência, quando o sistema imunológico destrói as células produtoras de insulina.
- Tipo 2: é o mais comum, representa 90% dos casos e está associado a fatores como obesidade, envelhecimento e sedentarismo.
- Gestacional: surge durante a gravidez e geralmente desaparece após o parto.
- Pré-diabetes: condição em que o nível de glicose está acima do normal, mas ainda não caracteriza a doença; é um importante sinal de alerta.
Entre as medidas de prevenção estão a alimentação equilibrada, a prática regular de atividade física e o controle do peso corporal. O Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, recomenda o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e a redução de ultraprocessados, como refrigerantes, embutidos e produtos industrializados, que favorecem o descontrole da glicemia.
Manter hábitos saudáveis e realizar acompanhamento médico regular são atitudes essenciais para prevenir complicações e garantir qualidade de vida às pessoas com diabetes.
