Mais duas denúncias de racismo chocaram a comunidade de Pelotas essa semana. O primeiro caso, no clássico Bra-Pel, traz mais uma vez o alerta sobre as pessoas que se sentem à vontade para cometer crimes de ódio dentro do ambiente esportivo, afinal aquele ali é um local de embate. O outro, na noite de terça-feira (4), contra o vereador Michel Promove (PP), foi dentro de um ambiente de ânimos exacerbados na Câmara, em que algumas pessoas sentiram que, naquele contexto, era aceitável cometer um crime em um local que deveria ser de debate de ideias.
Isso tudo, em pleno mês da consciência negra. Poucas semanas após a série de ataques racistas na caixa de comentários de uma publicação do A Hora do Sul, sobre o evento Corre Preto. Dias após uma série de novos comentários debochando do megaevento de cultura negra que Pelotas sediará no ano que vem. Ou seja, não são, definitivamente, casos isolados. Há um claro cenário de pessoas que sentem-se confortáveis em partir para o ataque racista, ignorando não apenas o fato de ser um crime, mas de ser uma das coisas mais baixas e podres que nossa sociedade carrega.
O preconceito racial não é justificável sob nenhuma hipótese, em nenhum contexto, nem mesmo de brincadeira ou deboche. É complexo pensar em soluções definitivas para isso, afinal faz parte da própria construção de uma sociedade que foi constituída sob um regime escravagista. Estamos em uma cidade que foi erguida com sangue e suor preto, mas tem uma tendência de fechar os olhos para isso e lembrar só quando convém. Mudar essa mentalidade, criar uma nova cultura e livrar-se dessa chagas talvez leve mais algumas gerações. Mas algo precisa ser feito.
Há décadas, escolas, entidades, mídia e tantos outros setores da sociedade trabalham na tentativa de buscar uma igualdade racial. Ainda assim, o racismo persiste através de pessoas cuja única explicação é a convicção no próprio preconceito. Se é assim, então que a Justiça dê a eles o tratamento necessário, punições exemplares e que pelo menos constranjam os demais quando cogitarem colocar suas palavras e atos podres na rua. Fazê-los engolir seus atos através do temor da punição talvez seja a única saída. E, o restante da sociedade, não pode esmorecer em nenhum momento na tentativa de mudar esse cenário, reeducar quem quer ser reeducado e formar próximas gerações melhores do que a atual.
