Zucco paz e amor

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

Zucco paz e amor

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A Rádio Pelotense iniciou ontem uma rodada de entrevistas com os pré-candidatos ao governo do Estado em 2026. O primeiro convidado foi Luciano Zucco (PL). A 11 meses da eleição, o líder do bolsonarismo na Câmara dos Deputados adotou um discurso surpreendentemente moderado ao explicar seus planos para o Rio Grande do Sul. Nada de militarismo, armas ou fervor religioso, marcas registradas do Partido Liberal, e muito menos ataques ao PT. Aliás, em vinte minutos de conversa, o Tenente-Coronel não citou Jair Bolsonaro uma única vez.

A estratégia é evidente. Na liderança das pesquisas, Zucco sabe que a popularidade do bolsonarismo no RS lhe garante um lugar no segundo turno. A dúvida é com quem dividirá o palco em outubro de 2026. E aí entra a moderação. Em 2022, foi justamente a falta dela que derrubou Onyx Lorenzoni: liderou o primeiro turno, mas perdeu para Eduardo Leite no desfecho. Leite, representante de uma direita com verniz de centro, herdou boa parte dos votos petistas, que preferiram o equilíbrio ao extremismo.

Líder do bolsonarismo adotou discurso moderado (Foto: Divulgação)

Na entrevista, Zucco concentrou seus ataques nas fragilidades dos sete anos de governo Eduardo Leite. Mesmo sem poder disputar novamente, o atual governador tenta projetar seu legado nas figuras de Gabriel Souza (ou até Paula Mascarenhas). Do outro lado, Juliana Brizola (PDT) e Edegar Pretto (PT) aparecem bem nas sondagens.

Chamou atenção, porém, a insistência com que Zucco citou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como referência de gestão e eventual candidato à Presidência, ainda que o próprio Tarcísio evite se colocar nesse papel. O gesto é simbólico: ao invocar Tarcísio, Zucco tenta se associar a uma imagem de bolsonarismo técnico, distante do confronto ideológico que marcou o ciclo anterior.

Quando falou em segurança, o tom também surpreendeu: nada de bravatas sobre armas ou repressão, mas ênfase em qualificação e transporte, temas pouco explorados pela ala mais radical do PL. Zucco reconheceu as limitações financeiras do Estado, sobretudo na Metade Sul, e apontou o investimento privado como salvação, um eco evidente da política de Leite.

Como movimento de bastidor, tenta se aproximar do PP, partido que há uma década se mantém colado ao poder gaúcho, seja com Sartori, seja com Leite. Zucco parece entender que, para vencer, precisa menos de tropa e mais de coalizão.

Sem apadrinhamento

Em entrevista à Rádio Pelotense, o vereador Ivan Duarte avisou que decidiu remar contra a corrente. Em 2026, as emendas impositivas do seu gabinete não terão endereço escolhido por ele: ficarão na mão da prefeitura, para execução conforme o orçamento e as prioridades gerais. Não é desprezo ao recurso; é uma crítica ao costume que transforma emenda em moeda de apadrinhamento, a retribuição de votos via verba direcionada. Ivan mira o vício e acerta no ponto: política pública precisa de critério, e eu considero a ideia positiva.

Também na Pelotense, o vereador Ronaldo Quadrado (PT) apresentou um caminho complementar: submeter as emendas a voto popular, uma espécie de orçamento participativo em miniatura. A proposta pode funcionar como filtro de prioridade, desde que venha acompanhada de transparência real.

Emendas não são pecado, mas o escuro é. Se a Prefeitura executa, que abra a planilha e entregue a obra. Aliás, a execução (ou falta de) das de 2025 já são polêmicas. Se a população ou os vereadores escolhem, que escolham com dados à vista. O leitor já entendeu: o movimento de Ivan e a ideia de Quadrado não sinalizam antipolítica. São, ao contrário, um passo na direção da política adulta, capaz de enfrentar hábitos antigos com luz acesa.

SUS da educação

O “SUS da Educação” é o novo Sistema Nacional de Educação: uma engrenagem de cooperação que põe União, estados e municípios juntos para combinar regras, dinheiro, dados e metas. O rótulo cola porque traduz a ambição do SNE: organizar o que já existe. As mesas de pactuação (tripartite em Brasília, bipartites nos estados) dão calendário e critérios responsáveis. O dado vira fio condutor: com identificador único do estudante, as redes deixam de ver matrículas soltas e passam a acompanhar trajetórias, como onde a evasão estoura, em que transição o aluno cai, qual serviço falta para segurar a permanência.

Nos cofres, sem milagres: o Fundeb segue como base, e o CAQ oferece a régua do “quanto custa garantir o mínimo que faz diferença”, orientando onde a desigualdade pesa mais. No Rio Grande do Sul, a utilidade é reduzir a diferença entre capital e interior. Se os dados apontam queda no 1º ano do médio na região sul, por exemplo, a bipartite pode priorizar transporte, estágios locais e itinerários ligados às vocações regionais.

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