Nas últimas semanas, a praia do Laranjal, em Pelotas, tem registrado o aparecimento de um número expressivo de peixes mortos nas margens da Lagoa dos Patos. A cena, que chamou a atenção de moradores, é acompanhada de um forte cheiro e preocupa pela possível relação com a qualidade da água. A prefeitura iniciou uma investigação para identificar as causas e aguarda o resultado das análises químicas realizadas pelo Sanep.
Conforme o secretário de Qualidade Ambiental (SQA), Márcio Souza, as coletas foram feitas no fim de semana, logo após o agravamento do fenômeno na orla. O resultado deve ser conhecido hoje. “A partir dos testes químicos da água, vamos poder enfrentar o problema com base em dados concretos. Até o momento, não há indício aparente de contaminação”, afirma.
Souza explica que uma das hipóteses avaliadas é a pesca predatória, prática que pode causar a morte e o descarte de peixes sem valor comercial. O secretário destaca que a confirmação só será possível após a conclusão dos testes laboratoriais.
Enquanto aguarda o laudo, a SQA diz estar reforçando a fiscalização na região da lagoa. “Estamos atentos a qualquer tipo de desequilíbrio ambiental. Temos intensificado o trabalho de monitoramento e atuado em outras situações de descarte irregular na cidade”, completa Souza.
Hipótese provável
O professor Felipe Dumont, do Instituto de Oceanografia da Fundação Universidade de Rio Grande (Furg), considera o descarte da pesca ilegal de arrasto a hipótese mais provável. Segundo ele, esse tipo de prática costuma resultar na captura de espécies sem valor comercial, eliminadas pelos pescadores.
Dumont conta: “Estive me deslocamento por água pela região de Rio Grande e Pelotas no fim de semana e vi barcos grandes usando redes “de arrasto”, que capturam muita fauna acompanhante”. Esses peixes acabam sendo jogados fora e levados pelas correntes até a margem. “É o que parece ter acontecido”, conclui o professor.
Para Dumont, outros fatores, como a falta de oxigênio na água, também podem causar a morte de peixes, mas esse fenômeno ocorre com mais frequência durante o verão, quando a temperatura da água é mais alta e há menor circulação. “Neste momento do ano, essa causa é menos provável”, observa.
Questionamentos da comunidade
Entre os moradores do Laranjal, a sensação é de incômodo e falta de respostas. Uma moradora, que preferiu não se identificar, contou viver há sete anos em uma casa de frente para a orla e relatou que o problema se repete quase todos os anos. “Tem bastante peixe morto e o cheiro é forte. Às vezes os animais trazem os peixes até as calçadas das casas. Já faz mais de um mês que está assim”, relata.
