A produção de abóbora na região de Pelotas e na Zona Sul do Rio Grande do Sul deve registrar queda na safra 2025/2026, após um ciclo marcado por preços baixos e rentabilidade limitada para os produtores. A estimativa é de redução de até 1.200 hectares para a próxima safra.
De acordo com o Censo Olerícola 2025 realizado pela Emater, a região possui 1.816 hectares destinados ao cultivo de abóbora cabotiá — também conhecida como abóbora japonesa — e outras 310 hectares com variedades comuns, de doce e abobrinha. Somente Pelotas responde por cerca de 240 hectares de abóbora cabotiá.
“Essa redução ocorre porque o preço da última colheita mal cobriu os custos de produção. Muitos produtores estão desestimulados a ampliar ou manter a área anterior”, explica o engenheiro agrônomo assistente técnico regional em Olericultura da Emater/RS-Ascar, Cesar Roberto Demenech.
A queda deve ser mais expressiva em municípios tradicionalmente fortes na produção, como Herval e Arroio Grande, onde o cultivo chegou a ocupar 1.300 hectares no ciclo anterior. Atualmente, os produtores se encontram no período de término do plantio das mudas.
Apesar da retração, o cultivo de abóbora segue sendo tradicional e economicamente relevante na região. “É uma cultura bem adaptada ao clima e ao solo da Zona Sul, o que garante boa produtividade, especialmente quando há irrigação. Além disso, a abóbora tem a vantagem de poder ser armazenada por mais tempo, sem necessidade de venda imediata”, destaca o técnico.
O especialista lembra, porém, que o setor enfrenta os mesmos riscos das demais culturas vegetais: instabilidade de preços e influência do clima. “Em anos de seca, a produtividade cai bastante. Já o preço é um fator que o produtor não domina, pois a abóbora cabotiá é comercializada em nível nacional e sofre variações de mercado”, observa.
A última safra foi particularmente desafiadora. “Durante o auge da colheita, a abóbora foi vendida entre R$ 0,40 e R$ 0,50 o quilo na lavoura, valor que em muitos casos empatou com os custos de produção. Isso certamente pesou na decisão de reduzir o plantio neste ano”, comenta Demenech.
Grande parte da produção da Zona Sul é voltada ao abastecimento regional, incluindo feiras, mercados e pontos de venda locais. No entanto, a abóbora cabotiá também tem alcance estadual e nacional, sendo comercializada para outras regiões do Rio Grande do Sul e do país.
Mesmo diante das incertezas, Demenech reforça que o potencial da cultura permanece. “Temos um solo e um clima favoráveis, e produtores experientes. Com preços mais equilibrados e boas condições climáticas, a abóbora continua sendo uma excelente opção dentro da olericultura regional”, conclui.
Expectativa de melhora
Responsável por 170 hectares, o produtor Valmir Miliorança reduziu o cultivo da abóbora em razão dos baixos preços praticados na safra anterior. “Ano passado eu plantei 212 hectares com colheita muito boa. Porém, o valor de venda foi muito baixo, ficando em torno de R$ 0,35, R$ 0,40.
Miliorança espera que na próxima safra ocorra melhora nos preços. O produtor comercializa para municípios como Pelotas, Porto Alegre, Caixas, assim como envia parte da sua produção para os estados de Santa Cataria, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. “Quando estamos colhendo abóbora aqui no Estado está em ante safra em outros locais. Da última safra, comercializamos até para o Paraguai”, comenta.
A expectativa para a próxima safra será a de colher entre 10 a 12 toneladas por hectare. “É uma cultura que não precisa de grandes investimentos nem maquinários. Precisa de bastante mão de obra e gera muitos empregos para o município”, explica.
Atualmente, na avaliação do produtor, o preço vem sendo o principal ponto negativo. “Muitos produtores saíram do plantio da batata e passaram para a abóbora, isso saturou muito o mercado. Excesso de oferta, o preço baixou muito e não cobriu os preços da lavoura”.
