A safra 2025/2026 de morangos consolida Pelotas como um dos grandes produtores da fruta no Estado. Em número de produtores, o município assume a liderança. Segundo a Emater, são 230 produtores cultivando uma área de 43,5 hectares, o que representa um crescimento de cerca de 10% em relação ao ciclo anterior.
Com expectativa de colher 1.740 toneladas, a safra atual deverá ser superior à do último ano, impulsionada pelo aumento do número de área plantada, de 20 novos produtores e condições climáticas favoráveis.
O chefe do escritório da Emater em Pelotas, Rodrigo Prestes, destaca que o tempo firme e as temperaturas amenas desde o início do ciclo têm beneficiado o desenvolvimento das plantas. “Estamos vendo um pico de produção mais intenso neste ano, especialmente entre setembro e dezembro, o que garante maior oferta ao consumidor”, avalia.
Prestes explica que o cultivo suspenso em bancadas, também chamado de semi-hidropônico, vem transformando a produção local. O sistema, além de melhorar a ergonomia do trabalho, permite triplicar o número de plantas por hectare — de cerca de 40 mil no solo para até 120 mil sob estufa — e reduzir o uso de defensivos agrícolas.
“Esse método trouxe conforto e eficiência. Muitos produtores que pensavam em abandonar a atividade voltaram a investir, justamente por poder trabalhar em pé e controlar melhor o ambiente”, observa Prestes.
Produção familiar e cultivo o ano inteiro
Ao contrário da Serra Gaúcha, onde predominam grandes áreas e cultivos empresariais, em Pelotas a produção é majoritariamente familiar, aproveitando pequenas áreas e a mão de obra da própria propriedade. “O morango aqui é uma alternativa de diversificação da renda, uma cultura que ocupa pouco espaço e tem bom retorno financeiro”, explica chefe da Emater Pelotas.
Um dos produtores que simbolizam essa nova fase é Marcos Daniel Nornberg, que há quatro anos cultiva morangos na zona rural do município. Ele modernizou o sistema de cultivo da família, substituindo o plantio no solo por bancadas em estufa.
“Hoje tenho nove mil plantas sob cobertura e trabalho com quatro variedades diferentes, para colher praticamente o ano inteiro”, conta. “A produção em bancadas facilita o manejo, reduz o uso de agrotóxicos e exige menos mão de obra — o que faz toda diferença.”
Variedades e mercado
Entre as cultivares mais comuns estão a San Andreas, de origem americana, e a Fênix, desenvolvida pela Embrapa, esta última ganhando destaque pela qualidade de sabor e cor. Segundo Prestes, a San Andreas é uma muda de dia neutro, que permite colheitas contínuas, enquanto a Fênix, de dia curto, concentra a produção entre setembro e dezembro, período considerado o pico da safra.
Já Nornberg explica que o trabalho com variedades importadas e nacionais permite escalar a produção ao longo do ano, evitando períodos de escassez. “A ideia é que, quando uma variedade termina, a outra comece. Assim, consigo manter o fornecimento e vender direto ao consumidor, o que garante melhor preço”, comenta o produtor.
Desafios e perspectivas
Apesar do bom momento, os produtores ainda enfrentam desafios, principalmente na comercialização durante o pico de safra, quando a oferta cresce e os preços caem. “Este ano, tivemos que buscar novos mercados, como Bagé e Santana do Livramento, porque o mercado local ficou saturado”, relata Nornberg.
Para o futuro, tanto a Emater quanto os produtores apostam em qualificação técnica e pesquisa para aumentar a produtividade e manter o morango pelotense em destaque no cenário estadual.
“Temos espaço para crescer, principalmente com o uso de cultivares adaptadas e tecnologias que permitam produzir com qualidade e sustentabilidade”, resume Prestes.
