Até o dia 20 de novembro pode ser conferida, no Largo do Mercado Público Central, a exposição “Memórias das Águas: Gratidão”. São 80 imagens que registram os impactos das enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul, não apenas pela tragédia, mas pelo movimento de solidariedade que uniu a população. A mostra é a primeira de duas edições que estarão na cidade: a segunda, “Retomada”, será aberta em 23 de novembro. As exposições são resultado de um concurso que reuniu fotógrafos profissionais e amadores de diversos municípios, e já passaram por três edições em Porto Alegre, com público superior a 200 mil visitantes. À frente da organização, o curador do projeto e fotógrafo, Marcos Monteiro, conta que a ação foi viabilizada pelo Clube Arte Para Todos, em parceria com o Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, sob a produção executiva de Edison Nunes. Ambos destacam a importância da memória coletiva, o engajamento do público e a escolha de Pelotas como uma das cidades a receber a mostra.
De onde surgiu a ideia da exposição “Memórias das Águas”?
Marcos Monteiro: Durante a enchente, minha galeria a céu aberto em Porto Alegre ficou submersa. Ali ao lado era um dos pontos de resgate, e aquilo me tocou profundamente. As pessoas deixaram seus trabalhos para ajudar desconhecidos, animais, levar mantimentos. Vi que aquilo não poderia cair no esquecimento. No Brasil, a gente esquece rápido o que vive. Então a exposição nasce dessa necessidade de registrar a solidariedade, provocar reflexão social e política, e transformar a dor em arte.
Como foram as edições em Porto Alegre?
Edison Nunes: Tivemos uma média de 25 a 28 fotógrafos por mostra e superamos a marca de 200 mil visitantes. A Praça da Alfândega tem grande circulação, e as pessoas paravam para ver e se emocionar. Nosso foco sempre foi mostrar o apoio entre as pessoas, não apenas o sofrimento.
A participação de fotógrafos foi de todo o Estado?
Nunes: Tivemos inscrições de várias cidades, mas a maior concentração foi de Porto Alegre e, agora, de Pelotas. O projeto foi pensado para percorrer ao menos sete cidades atingidas, mas conseguimos viabilizar quatro exposições até agora, três na capital e duas aqui (Pelotas).
Como é feita a seleção das imagens?
Monteiro: Eu faço a curadoria sem ver os nomes dos autores. Seleciono pela força da imagem, pelo olhar. São 80 fotos por edição. No total das cinco exposições, serão cerca de 400 imagens. Com isso, há muita identificação do público. As pessoas se emocionam, voltam com a família, contam suas histórias. Há um componente de memória, pertencimento e questionamento: o que foi feito para evitar novas enchentes? O que ainda precisa ser feito?
Como é produzir uma mostra ao ar livre?
Monteiro: Exige cuidado com o material: usamos impressão sintética de alta qualidade e estruturas de ferro com base em pedras de rio, inclusive pedras e madeiras reutilizadas das enchentes, trazendo um simbolismo extra.
Por que o título desta edição é “Gratidão”?
Monteiro: Mesmo após a dor, ficou a gratidão: pela vida, pelo apoio recebido, pela mão estendida quando se perdeu tudo. É esse sentimento que queremos valorizar. Tanto que há pessoas que desejam levar a imagem, mas como os painéis são grandes, pesados e seguem para novas exibições, isso não é possível.
Quem quiser participar da exposição Retomada, as inscrições são até o dia 2 de novembro. Basta acessar o Instagram @memorialdasaguas ou escrever para [email protected].