Vereador não faz resgate

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

Vereador não faz resgate

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Há algo de sincero na foto que a pesquisa tirou de Pelotas. Quando acontece um acidente, uma enchente, um deslizamento, os Bombeiros chegam, resgatam, estabilizam o quadro e vão embora. Fica a gratidão. Na política, não funciona assim. E aqui começa o mal-entendido que contaminou a leitura dos números na Câmara: segundo governo e oposição, a confiança é baixa porque “o povo não sabe” o que um vereador faz. Verdade parcial. Falta informação e sobra confusão produzida pela própria política.

Na Rádio Pelotense, ouvimos duas leituras similares sobre o tema. Embora opostos na ideologia, Jurandir Silva (PSOL), líder do governo, e Marcelo Bagé (PL), líder da oposição, enxergam um eleitor que cobra do vereador soluções rápidas para problemas que não são de sua alçada. É rotina: promessa de asfalto, de cirurgia, de vaga na creche…atribuições do Executivo. O Legislativo não executa. Ele legisla, fiscaliza e representa. Se o vereador promete o que não pode entregar, a conta chega na pesquisa: desconfiança.

O contraste com os Bombeiros é pedagógico por dois motivos. Primeiro, o Corpo de Bombeiros aparece ao cidadão na hora da vulnerabilidade e entrega de imediato um resultado visível. Segundo, não exerce função repressiva. Isso gera um vínculo de confiança diferente daquele que o eleitor tem com órgãos de coerção. Já a boa política, quando é bem feita, resolve processos: muda a regra, abre a planilha, corrige o contrato e prioriza os gastos. Só que é um processo que não rende nas redes sociais.

De onde vem, então, o problema? Em parte, da escola que não tivemos. Aprendi o coeficiente eleitoral só na faculdade. Antes disso, embora já votasse, acreditava que “os mais votados entram”. Muita gente ainda acha. Sem alfabetização política, a eleição vira concurso de vídeos e placas, e o mandato, balcão de favores com selo de “emenda parlamentar”. O cidadão vê o post “destinamos X mil reais” e pensa: “grande feito!”. Se soubesse o que é emenda, de onde vem e como se aplica, talvez cobrasse menos selfie e mais planilha.
A pergunta é: políticos estão dispostos a que seus eleitores tenham educação política? Porque um eleitor informado cobra diferente. Ele pergunta de lei aprovada, de relatório de fiscalização, de impacto orçamentário, de prioridade na fila, e não de foto com maquinário. Ele sabe que um vereador não faz resgate nem dá exame, mas pode aprovar regra que reduza prazos, obrigue transparência de filas e publique cronogramas.

O objetivo aqui não é livrar a cara de ninguém. Se a Câmara prefere palco a planilha, colhe vaia. Se o vereador se vende como despachante de obra, semeia o que depois o derruba. E se o Executivo promete além do que entrega, contamina todo o sistema. Também não compro a tese do “o povo não entende”: quem tem obrigação de explicar é quem pede o voto. O resto é desculpa. Se fizerem o dever de casa, o eleitor vai separar o bombeiro do vereador e cobrar o que é de cada um.

Realismo estratégico

O telefone toca do outro lado do mundo e o Brasil atende. Não para pedir bênção, mas para negociar. Em Kuala Lumpur, Lula sentou-se com Donald Trump e recolocou o país na mesa em que se decide o acesso ao mercado. É disso que se trata soberania: separar a guerra doméstica do interesse nacional e ir atrás do que reduz custo para quem planta, produz e exporta daqui. Conversar com quem te pune não é “baixar a cabeça”. É erguer a do Brasil. O encontro não muda a política em 24 horas (e nem deve), mas abre a pauta concreta: tarifas que encarecem nossa vida e sanções que misturaram comércio com política. Ainda há um efeito paralelo nisso tudo. Ao tratar Estado a Estado, o Planalto desloca os “intérpretes exclusivos” de Washington na política brasileira. Mediação agora se chama Itamaraty e USTR, não live. Se vier acordo, ótimo. Se não vier, pelo menos haverá quem responda por prazos, não por memes. Em português claro: soberania vira fato quando aparece no bolso e no emprego. Deve-se cobrar agora a pausa temporária nas tarifas enquanto a negociação anda e lista de setores priorizados.

Orçamento em foco

A Lei Geral de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2026, que determina o destino dos recursos da prefeitura, segue em debate na Câmara de Vereadores. Há uma série de temas do projeto que são questionados. Um deles será debatido em uma audiência pública na próxima sexta-feira (31), às 19h, para tratar da destinação de recursos para a Secretaria da Igualdade Racial e a Secretaria da Mulher. Esta foi uma solicitação do vereador Cesar Brisolara (PSB).

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