A pesquisa do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) divulgada pelo A Hora do Sul no fim de semana segue repercutindo entre lideranças locais. Os dados indicam que Bombeiros, Brigada Militar e Imprensa são as instituições nas quais os pelotenses mais confiam, enquanto prefeitura, Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa apresentam a maior desconfiança. Alguns representantes das instituições citadas na pesquisa repercutiram os resultados em entrevistas à Rádio Pelotense.
O tenente-coronel Paulo Renato Scherdien, comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar (4ºBPM) relaciona o resultado com a boa prestação de serviço da BM e o considera dentro da normalidade, visto as nuances da profissão. “Nem sempre a presença policial é satisfatória para todas as pessoas que estão envolvidas naquele momento de crise. Numa ação policial, fiscalização, barreira de trânsito ou perturbação da tranquilidade, muitas vezes elas deixam satisfeitas uma parte das pessoas e outra não”, explica.
Ele atribui tal desempenho à mudança da postura dos policiais, trabalhada em cursos dentro da BM sobre comunicação social, relações públicas, direitos humanos e polícia comunitária. Ainda, adiciona a ouvidoria de pessoas que se sentem mal atendidas pela instituição, as melhorias nas condições de trabalho e a atuação incessante. “É uma instituição que está 24 horas por dia à disposição, em todos os municípios, sei que a pesquisa é em relação a Pelotas, mas muitas vezes reflete uma instituição regional e estadual”, conclui.
Imprensa volta a ser referência de confiança
Segundo Elis Radmann, diretora do IPO, tanto o indicador da imprensa quanto o do jornalismo têm melhorado nas últimas pesquisas, especialmente frente à desinformação, fake news, deep fakes e golpes do meio online. “Nós temos o mundo do crime na internet. A população hoje tem muita dificuldade de confiar e de se salvar dessa quantidade de informação, e muitas delas falsas”, afirma.
Segundo ela, a imprensa começou a ser novamente reconhecida e o jornalismo ainda mais. “As pessoas confiam muito mais na imprensa do que na prefeitura, na Câmara ou no Estado e na Assembleia Legislativa. Ou seja, as pessoas vão escutar primeiro o que a imprensa fala”. Ela explica que as pessoas escolhem um jornalista para confiar, seja ele de um meio radiofônico, escrito, televisivo ou digital.
Legislativo com baixa credibilidade
Apesar das divergências políticas, as explicações para a baixa credibilidade da Câmara de Vereadores de Pelotas apresentadas pelos vereadores Marcelo Bagé (PL), líder da oposição, e Jurandir Silva (PSOL), líder do governo, apresentam pontos em comum em suas análises. Ambos destacam que grande parte da população não entende as funções do Legislativo e ainda carece de consciência política.
Os dois reconhecem que, historicamente, promessas de vereadores e a atuação midiática exagerada contribuíram para a desconfiança popular. “Com o passar do tempo, muitos vereadores se elegeram prometendo aquilo que não poderiam cumprir. E isso gerou a falta de credibilidade, inclusive, na própria política”, afirma Bagé. Na mesma linha, Jurandir complementa. “Eles fazem propostas de deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito, governador, e isso vai causando um elemento de confusão. Se uma pessoa que fez proposta de prefeito for eleita como vereador, ela continuará sendo cobrada pelo eleitor por aquela promessa”.
Entre os pontos de divergência, está a origem da baixa confiança da população. Jurandir enfatiza o funcionamento interno complexo da Câmara e a lentidão na aprovação de projetos considerados importantes. Ele cita como exemplo a aprovação de uma lei que cria novos cargos de servidores. “Foram várias semanas de debate, e só a sessão que aprovou o projeto por unanimidade durou sete horas. Como é que as pessoas vão confiar?”.
Já Bagé atribui maior peso à responsabilidade do Poder Executivo e às “sucessivas más gestões da prefeitura”. Ainda, afirma que população vê o vereador como um resolutor de problemas. “Quando o problema não é resolvido, a culpa recai sobre ele. Mas, de fato, quem faz a gestão, define os serviços públicos, as prioridades e o orçamento é o prefeito e seu secretariado. A responsabilidade pelos problemas da cidade, na maior parte, é do poder Executivo”, declara ele.
Relembre
Realizada com exclusividade para o Jornal A Hora do Sul, a pesquisa indicou como entidades de maior credibilidade: Bombeiros (94%), Brigada Militar (72,3%) e imprensa (62,3%). Já Executivo e Legislativo aparecem com maior desconfiança: Prefeitura 47,3% e Câmara 57,7%.
