O outubro é sempre lembrado como o mês de mobilização em todo o país pela prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. Pelo relatório do Controle de Câncer de Mama no Brasil: dados e números 2025, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), só este ano, são estimados 73,6 mil novos casos, representando 28,1% de todos os cânceres femininos. A notícia relevante é que o levantamento também indica redução da mortalidade entre mulheres de 40 a 49 anos entre 2020 e 2023, possivelmente resultado de campanhas e do diagnóstico mais precoce.
Com a prevalência de diagnósticos nessa faixa etária, o Ministério da Saúde passou a garantir o acesso à mamografia no SUS, mesmo sem sinais ou sintomas de câncer, pois concentra 23% dos casos da doença e a detecção precoce aumenta as chances de cura. O alerta vem dos números. Só em 2023, 20 mil mulheres perderam a luta contra a doença.
Quanto mais cedo, melhor
A médica Raissa Stark Stigger Marques, formada pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e mastologista com atuação no Hospital Escola/Ebserh e atendimento em Pelotas, explica a mudança ocorreu após as evidências de uma parcela significativa dos diagnósticos acontecendo antes dos 50 anos. “O estudo prospectivo Amazona III, realizado no Brasil, revelou que 43% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama tinham menos de 50 anos, um resultado que reacendeu o debate sobre a idade de início das mamografias. As mulheres jovens tinham, em média, tumores mais agressivos e em estágios mais avançados no momento do diagnóstico”, conta.

Atividades levam ações em saúde às ruas da cidade (Foto: Janine Tomberg)
A especialista esclarece que com a mamografia de rastreamento é possível detectar lesões em seu estágio mais inicial, alcançando taxas de cura em torno de 95% e com tratamentos menos agressivos. Só em 2024, o Brasil realizou 4,4 mil rastreamentos.
Intuição, coragem e fé
Duas mulheres pelotenses, Caroline Costa e Bianca Röpke, transformaram a própria experiência com o câncer de mama em exemplo de fé, força e prevenção. Diagnosticadas ainda jovens, elas lembram que o instinto e o autocuidado foram fundamentais para o diagnóstico precoce, e para vencer a doença.
Caroline, advogada e administradora de empresas, descobriu o câncer aos 37 anos, depois de insistir com o ginecologista para incluir a mamografia nos exames anuais, mesmo antes da idade indicada. “Eu sentia dentro de mim que precisava fazer. Felizmente, segui minha intuição”, contou. O resultado mostrou um carcinoma in situ, detectado em estágio inicial. “Foi um choque, mas eu pensei: se eu cair, minha família cai comigo. Então, usei a teimosia a meu favor. Deus me deu força e colocou pessoas maravilhosas no caminho.”
A gerente de marketing Bianca Röpke tinha apenas 32 anos quando encontrou um pequeno nódulo durante o banho. “Eu achava que não era nada, até que o médico pediu uma biópsia. O resultado mostrou um câncer de mama triplo negativo, um tipo mais agressivo, que exigia tratamento imediato.” Mãe de um bebê, na época, Bianca enfrentou 16 sessões de quimioterapia e a retirada das duas mamas. “Foi difícil, mas eu aprendi que o amor e a rede de apoio curam tanto quanto os remédios. O acolhimento da família, dos colegas e das mulheres que já passaram por isso foi essencial.” As duas reforçam que o diagnóstico precoce salva vidas.
Acesso à informação
Em relação ao atual cenário do câncer em Pelotas, apesar dos esforços em diagnóstico e tratamento, ainda há desafios significativos no manejo do câncer. “O elevado número de diagnósticos em estágios avançados, a demora entre o diagnóstico e o início do tratamento, e a concentração de internações em poucos hospitais, como o Hospital Escola da UFPel, indicam a necessidade de aprimorar o acesso ao diagnóstico precoce, aumentar a disponibilidade de tratamentos rápidos e melhorar a distribuição de recursos de saúde”, indica a mastologista.
Em Pelotas, os rastreamentos do câncer de mama e do colo do útero são realizados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “Mas no mês de outubro intensificam as ações de promoção à saúde da mulher, com foco na prevenção e detecção precoce”, destaca a nutricionista Etiene Alves, que atua na prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) da Secretaria de Saúde.
O trabalho desenvolvido pelas equipes da Atenção Primária vai além do olhar às doenças. Elas fazem ações educativas em grupos, escolas e comunidades para orientação sobre a importância do diagnóstico precoce e realizam o encaminhamento para exames quando necessário. Os agendamentos de mamografia, ultrassonografia de mama e colposcopia são organizados pela Regulação Municipal, responsável pelos fluxos e prazos de realização dos procedimentos.
“As UBSs também promovem atividades voltadas ao autocuidado, empoderamento feminino e conscientização sobre a doença”, conta. Para Etiene há uma preocupação crescente entre as mulheres relacionada à prevenção. “Mas a disponibilidade de exames não garante a adesão. Ainda há barreiras determinantes como acesso, informação, mobilização e educação em saúde. Por isso acredito ser fundamental manter o diálogo com a comunidade, fortalecer as ações educativas e garantir que a prevenção chegue de forma efetiva a todas as mulheres, em especial às que mais precisam”, enfatiza.
Rede de apoio

(Foto: Divulgação)
Bianca lembra que, em Pelotas, instituições como o Instituto Buquê de Amor (IBA) oferecem apoio para mulheres em busca de diagnóstico e exames. “Neste Outubro Rosa, estamos com a Loja Rosa no shopping, onde médicos voluntários vão atender gratuitamente mulheres que precisam fazer mamografia ou ultrassom. O importante é não esperar.” A ação está marcada para o dia 29. Caroline resume a experiência com serenidade: “Hoje eu tenho outro olhar sobre a vida. Passaria por tudo de novo para ser quem eu sou agora. O câncer não me venceu. Eu venci o câncer.”
Mobilização em Pelotas
Em Pelotas, o Outubro Rosa 2025 foi aberto oficialmente em parceria entre a prefeitura e a Associação de Apoio às Pessoas com Câncer (Aapecan). A cerimônia destacou a importância da prevenção e da solidariedade no enfrentamento da doença.
Decididas
A programação do Outubro Rosa inclui a exposição Decididas, aberta no hall da prefeitura (sala Frederico Trebbi), com fotos de mulheres atendidas pela Aapecan diagnosticadas com câncer de mama. O ensaio, realizado no Museu do Doce, mostra histórias de superação e coragem. Uma das participantes é Arlene Cardoso, 71 anos, diagnosticada há três anos e hoje livre da doença. “Cada Outubro Rosa é um alerta. É preciso fazer mamografia, se alimentar melhor e cuidar da saúde o ano inteiro. Eu agradeço a Deus, aos médicos e à Aapecan, que foi essencial na minha recuperação”, disse. A mostra fica aberta ao público até 23 de outubro.
Ações e serviços gratuitos
Durante todo o mês, diversas atividades reforçam o cuidado e a prevenção:
- Loja Rosa no Shopping Pelotas: O Instituto Buquê de Amor (IBA) montou um espaço para oferecer triagem gratuita a mulheres.
Prevpel: O programa municipal disponibiliza, até 31 de outubro, exames preventivos gratuitos, como mamografia, ultrassonografia mamária e preventivo ginecológico, para servidoras e dependentes com FAM. - Farmácia Municipal: Realiza eventos de rua com vacinação, testes rápidos, coleta de material para exames e orientação sobre medicamentos.
- Carreta da Saúde: Em articulação com a Prefeitura, o veículo estará no município ampliando o acesso a exames preventivos e de imagem.
O Outubro Rosa segue até o fim do mês com palestras, mutirões e atividades educativas. A mensagem é clara: a prevenção ainda é o melhor caminho para vencer o câncer de mama.
