Feira do Livro de Pelotas celebra 51ª edição com tradição, memórias e renovação

#PelotasMerece

Feira do Livro de Pelotas celebra 51ª edição com tradição, memórias e renovação

Evento, que começa começou na década de 1960, tem reafirmado o papel da leitura como um elo entre gerações

Por

Feira do Livro de Pelotas celebra 51ª edição com tradição, memórias e renovação
(Foto: Jô Folha)

A primavera anuncia também um dos eventos mais queridos de Pelotas: a Feira do Livro. Entre os dias 30 de outubro e 16 de novembro, a 51ª edição do evento toma conta da Praça Coronel Pedro Osório, reafirmando o papel da leitura como um elo entre gerações e um símbolo da identidade cultural pelotense.

A trajetória da Feira, atualmente realizada pela Câmara Pelotense do Livro, começou em 25 de novembro de 1960, idealizada pelos irmãos livreiros Itamar e Gilberto Rezende Duarte, inspirados pela Feira do Livro de Porto Alegre. Com o apoio do então prefeito João Carlos Gastal, Pelotas organizou a primeira feira literária do interior do Estado. A comissão fundadora reuniu nomes como Henrique Bertaso, da Livraria do Globo, e o jurista Mozart Russomano, entre outros. A primeira edição, realizada na própria praça Coronel Pedro Osório, teve intensa programação cultural e já mostrava a vocação do evento para unir livros, arte e convivência.

Naquele ano, uma presença marcante encantou o público: Carolina Maria de Jesus. A autora mineira, que havia lançado o célebre Quarto de despejo: diário de uma favelada, fez em Pelotas sua primeira sessão de autógrafos no Rio Grande do Sul. Depois dessa edição histórica, o evento ocorreu sucessivamente até 1964. Depois veio um hiato de 14 anos. Retomada somente em 1978, a Feira do Livro foi abraçada novamente pela comunidade pelotense.

Evento se qualificou

Mais de seis décadas depois, a Feira mantém viva essa herança cultural, adaptando-se aos novos tempos. A produtora Theia Bender, à frente da organização há 14 anos, conta que o evento se transformou. “Os livreiros entenderam que a Feira é mais do que vender livros”, afirma.

(Foto: Jô Folha)

A estrutura física foi modernizada, como por exemplo, com a colocação de toldos sobre as bancas, trazendo mais resguardo aos livreiros e ao público contra. O evento também passou a valorizar a programação literária e educativa, apoiado pelas prefeitura e Bibliotheca Pública Pelotense, com apresentações de escolas e com a presença de autores consagrados de várias regiões do país. “Cada ano melhoramos um pouco, com foco na segurança, na inclusão e na valorização da cultura”, explica.

A permanência na praça Coronel Pedro Osório é considerada essencial para Theia, em outro lugar não funcionaria tão bem. “Eu acho que se tirar daqui, ela morre. Não vai ter a mesma vida”, opina.

Para a organizadora, o evento também contribui para que a praça fique ainda mais convidativa. “Quando ela começa, as pessoas se sentem mais seguras. Tirar daqui seria como tirar do coração da cidade.”

Mas colocar o evento na rua é um grande desafio a cada ano. “As questões financeiras são complicadas, porque a Feira é promovida pela Câmara. São 10 associados, a maioria deles nem tem uma livraria fixa.”

Criada por iniciativa privada, a Feira já esteve nas mãos do poder público municipal. Porém Theia percebe que o evento cresceu e se profissionalizou a partir do momento que adquiriu CJPJ próprio, proporcionado pela Câmara Pelotense do Livro.

“Quando eu peguei a Feira, a gente não precisava de PPCI, de projeto arquitetônico e elétrico. Hoje precisamos de tudo isso e mais. É muita burocracia”, fala. Projetar e viabilizar é um trabalho que toma, praticamente, um ano.

Por isso é tão importante a participação de parceiros. “A Câmara não consegue fazer sozinha. Ela se construiu como instituição, mas precisa das outras todas para poder estar aqui.”

Memórias especiais

(Foto: Gabriel Leão)

A edição de 2025 tem como patronas Maria Alice Estrella e Alexia Porto, representando duas gerações unidas pela paixão pelos livros. Maria Alice, cronista, funcionária pública aposentada e comunicadora, tem longa relação com o evento. “A Feira está no coração da cidade e aberta, sem fronteiras, para o conhecimento chegar”, afirma.

Maria Alice é porto-alegrense e veio para Pelotas aos 19 anos, já apaixonada pela literatura. Entre as memórias especiais que a cronista tem da Feira do Livro está a participação na 22ª edição, quando fez a abertura no Teatro Sete Abril, com um monólogo. “Foi muito significativo. E no decorrer do tempo eu estive na Feira do Livro com a Rádio Federal FM, onde eu era apresentadora e redatora. Participava de entrevistas com autores aqui na praça”, relembra.

A autora também lançou livros no evento, o mais recente. Mágica presença (2025), também terá sessão de autógrafos na edição deste ano. Por três anos a autora também trabalhou com a organização da Feira do Livro, como apresentadora e locutora. “E agora o apogeu que foi o convite para ser patrona. É um elo que se forma com os capítulos que foram escritos. Fico muito gratificada”, comenta.

Inspirando sonhos

Alexia, poeta e a mais jovem patrona do Rio Grande do Sul, viveu na Feira sua estreia como autora, no ano passado. “Cresci passeando entre os estandes. No ano passado, lancei meu primeiro livro (O que os pássaros me contaram) aqui. É um lugar que forma leitores e inspira sonhos.”

Para a poeta o evento tem sido um espaço de encontros e de descobertas. “Eu quero entregar poesia pra todo mundo. Ser patrona é muito importante pra mim e principalmente por ser a mais nova, é muito significativa. Eu quero levar o poder da palavra, da minha poesia pras pessoas e passar isso adiante pros jovens, pras crianças, pra todos os públicos”, diz.

As memórias da patrona sobre a Feira vêm da infância, quando ainda nem sabia ler. Do livrinho infantil que ela queria comprar e que chegou a regatear o preço, com menos de seis anos, a gaiola recheada de poesias escritas por ela e distribuídas na praça, passaram muitos anos mas a alegria de presenciar cada edição só aumenta. “Esse ano eu quero trabalhar novamente, levando pras pessoas esse meu amor, essa minha paixão pela escrita e principalmente pelos livros”, fala.

Acompanhe
nossas
redes sociais