Safra de soja pode bater recorde após anos de perdas no Estado

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Safra de soja pode bater recorde após anos de perdas no Estado

Especialistas alertam que chuvas regulares em janeiro e fevereiro serão determinantes para o sucesso da colheita

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Safra de soja pode bater recorde após anos de perdas no Estado
Safra deve ser de quase 41 milhões de toneladas no RS (Foto: Divulgação)

A primeira projeção da safra de grãos 2025/2026 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indica uma colheita recorde de 40,9 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, aumento de 13,7% em relação ao ciclo anterior. O volume equivale a 11,5% da produção nacional, que também deve alcançar novo recorde, estimado em 354,7 milhões de toneladas. Apesar das expectativas, produtores seguem cautelosos diante das condições climáticas.

A soja é a principal cultura do RS e da Região Sul. O Estado deve ocupar o segundo lugar entre os maiores produtores do grão no país, com 22,4 milhões de toneladas, aumento de 34,9% comparado a safra passada. A área plantada pode chegar a 7,2 milhões de hectares, com produtividade média de 3.129 kg/ha. Na Região Sul, mais de 515 mil hectares de soja devem ser cultivados, com apenas 1% da área semeada até o momento.

O engenheiro agrônomo da Emater-RS, Evair Ehlert, destaca a dependência do regime de chuvas como o maior desafio do setor, principalmente no cultivo da soja. Ele ressalta que uma boa safra é essencial para a economia e a recuperação financeira dos produtores, que enfrentam três anos consecutivos de perdas. “Nós temos muitas contas para pagar de safras anteriores, que foram frustradas. E as frustrações acabam se acumulando em dívidas”, revela.

Conforme o agrônomo, a melhor condição para a soja seria ter chuvas regulares em janeiro e fevereiro. “Uma chuva de 20 ou 30 milímetros em cada semana. Aí sim, essa supersafra está garantida”, afirma ele.

Desvalorização do arroz

No Estado, a cultura segue em andamento com 38,05% da área total já plantada, segundo o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga). Até a semana passada, cerca de 350 mil hectares já haviam sido semeados, com o total previsto em 920 mil hectares. A Região Sul apresenta maior avanço, já com 130,3 mil hectares semeados, o que corresponde a 83,25% da área destinada ao cultivo.

O arroz irrigado não preocupa quanto à produção, mas o grão está desvalorizado. De acordo com o agrônomo, a saca de soja varia entre R$ 120 e R$ 130, enquanto a de arroz custa cerca de R$ 60, acima do custo de produção de R$ 70.

Pressão das expectativas

Outro fator preocupante é a saúde mental dos produtores. Segundo Ehlert, expectativas de produção podem gerar pressão emocional nos agricultores. “O que nós temos dito é que continuaremos plantando a mesma área de soja e que, se o clima se mantiver regular, poderemos, sim, ter uma supersafra. Mas o produtor, que muitas vezes está endividado e sob grande pressão, ouve falar em supersafra e fica revoltado conosco”, relata.

Ele explica que os pequenos agricultores são os mais impactados. “Há quem não se abale por ter o CPF negativado, mas o produtor sente profundamente quando é alvo de comentários ou fofocas sobre dívidas. Ele não aguenta a vergonha pública – e, infelizmente, isso tem levado alguns ao suicídio”.

Estratégias de comercialização

O agrônomo enfatiza a importância de estratégias de comercialização, considerando o contexto econômico atual. “Quando o preço chega a R$ 140 muitos acreditam que ainda pode subir, mas diante do risco de desvalorização, talvez seja a hora de vender, porque esse valor já cobre boa parte dos custos. Isso faz parte da lógica de negócios rurais. Alguns produtores, inclusive, fecharam contratos futuros há três ou quatro anos, quando o preço chegou a R$ 180 por saca”, exemplifica.

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