O tabuleiro do arroz

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

O tabuleiro do arroz

Por

A Conab anunciou um pacote de medidas para movimentar até 630 mil toneladas de arroz da safra 2024/25. Na prática, o governo federal vai injetar R$ 300 milhões para garantir que o produtor receba, no mínimo, o preço fixado pela Política de Garantia de Preços Mínimos. Mas, politicamente, o anúncio vale muito mais que esse número. É um gesto de pacificação entre Brasília e o campo gaúcho, que vinha tensionado desde a enchente.


Anúncio foi feito ontem por Edegar Pretto (Foto: Débora Beina/Divulgação)

O recado foi dado em Porto Alegre, com a presença de Edegar Pretto, presidente da Conab e pré-candidato ao governo do estado pelo PT. Ao lado dele, Denis Dias Nunes, presidente da Federarroz, entidade que orbita em um cenário oposto. A imagem é simbólica: governo e setor produtivo sentados à mesma mesa, falando a mesma língua, da renda e da previsibilidade.

Pretto sabe o que representa esse movimento. Filho de um dos fundadores do MST, ele construiu trajetória de mediação entre o discurso da reforma agrária e o da produção agrícola. Agora, como dirigente nacional, se posiciona como ponte para um setor que ainda resiste ao diálogo com o PT. O anúncio, portanto, também tem valor eleitoral. Afinal, ao garantir preço e escoamento para o produto, reacende a confiança de um setor que, mesmo desconfiado, depende do Estado para sobreviver às oscilações do mercado.

Do ponto de vista regional, o gesto é igualmente relevante. A Metade Sul, onde se concentra boa parte da lavoura de arroz, continua sendo a zona mais vulnerável economicamente do Estado. A dependência dessa cultura torna nossa região refém dos preços e do clima. Quando o arroz cai, tudo esfria.

Por enquanto, o que se vê é um raro momento de convergência, com a lavoura e o poder jogando no mesmo lado do tabuleiro.

A anatomia da desinformação


Supremo condenou núcleo da chamada trama golpista (Foto: Divulgação)

Tudo começou com as vacinas. Quando o Brasil mais precisava de informação, o que se espalhou foi veneno. Em 2020, no auge da pandemia, milhões de brasileiros foram bombardeados por teorias conspiratórias que transformaram seringas em ameaças e médicos em inimigos. Era a desinformação testando seus limites. E o país, infelizmente, se tornou seu campo de prova.

O que parecia um surto pontual de ignorância revelou-se uma estratégia. A mesma estrutura que disseminou pânico contra vacinas evoluiu, anos depois, para algo mais grave. A lógica era a mesma: descredibilizar a ciência, depois a imprensa, depois a Justiça. Quando nada mais restasse confiável, bastaria tomar o poder.
A condenação, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, dos integrantes do chamado “núcleo da desinformação”, pune parte desse grupo sombrio. É uma resposta tardia, mas necessária.

Onze economistas de renome mundial, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel, afirmaram recentemente que o jornalismo cumpre hoje o mesmo papel que os bancos centrais desempenharam na economia do século 20: garantir confiança, prevenir colapsos e tornar visível o que o poder tenta esconder. A analogia é perfeita. Se os bancos centrais estabilizam moedas, o jornalismo estabiliza democracias.

A sentença do STF, portanto, vai além dos réus condenados. Ela representa o reconhecimento de que a mentira destrói instituições, políticas públicas e até o senso comum. O antídoto, em qualquer área, é o mesmo: informação confiável. E isso passa pelo jornalismo, pela escola, pela ciência e por um Estado que saiba comunicar sem medo da verdade.

Do anúncio à realidade

A Transpetro volta a investir em Rio Grande. São nove navios projetados, parte deles já contratados, outros em fase de licitação, e um novo anúncio previsto para dezembro com a presença do presidente Lula. A cena é forte: o polo naval, que simboliza tanto avanço quanto frustração, tenta novamente se reerguer. Durante anos, o estaleiro foi sinônimo de esperança. Mas o mesmo cais que representou prosperidade também assistiu ao esvaziamento. Quando as encomendas cessaram e o investimento público se retraiu, restaram galpões fechados, promessas interrompidas e milhares de famílias sem horizonte. A lembrança desse colapso explica o misto de entusiasmo e cautela com o novo anúncio.

Desta vez, no entanto, há uma diferença importante. O contexto nacional mudou. O Brasil busca reconstruir sua base industrial, diversificar sua economia e voltar a produzir com tecnologia e valor agregado. Nesse esforço, o polo de Rio Grande volta a ser peça de uma engrenagem maior: a da reindustrialização verde, ancorada em energia limpa, transporte marítimo e soberania logística.

Mas é preciso transformar o ciclo em política de Estado e o anúncio em realidade duradoura. O Polo Naval não pode depender da alternância de governos nem de decisões casuísticas. Precisa de visão de futuro, formação técnica permanente, integração com universidades e planejamento de longo prazo. Sem isso, corre o risco de ser mais um projeto que renasce no discurso e morre no calendário.

O Brasil tem, novamente, uma chance de unir desenvolvimento e propósito. A Transpetro sinaliza um investimento que reacende o sentimento de pertencimento em Rio Grande.

Acompanhe
nossas
redes sociais